domingo, 26 de dezembro de 2021

              CONGESTÃO VENOSA RENAL E 

                     LESÃO RENAL AGUDA


Dr. Alejandro Enrique Barba Rodas. Médico Responsável Técnico e Coordenador da Unidade Coronariana da Santa Casa de São Jose dos Campos. Coordenador da Residência em Medicina Intensiva – COREME e membro do Grupo Técnico de Enfrentamento à COVID -19 da Santa Casa de São Jose dos Campos.

Revisão usando como artigo base de referência:

Patil VP, Salunke BG. Fluid Overload and Acute Kidney Injury. Indian J Crit Care Med. 2020 Apr;24(Suppl 3):S94-S97. doi: 10.5005/jp-journals-10071-23401. PMID: 32704211; PMCID: PMC7347067.

 


Uma das intervenções mais frequentes em pacientes hospitalizados é a fluidoterapia, e praticamente todo paciente crítico é submetido a estratégias de reanimação/ressuscitação com fluidos. A indicação mais comum para a administração de fluidos é obter estabilidade hemodinâmica através do aumento da pré-carga e prevenir ou controlar a lesão renal aguda (LRA). No entanto, a administração de fluidos é uma “faca de dois gumes”, já que, quando deficitária pode originar ou piorar quadros de hipovolemia e de hipoperfusão tecidual com consequente lesão de órgãos, e quando em excesso pode causar sobrecarga de fluidos (hipervolemia), congestão venosa, edema tecidual intersticial, compressão arteriolar e consequentemente também hipoperfusão tecidual e lesão orgânica. Assim, embora fluidos sejam comumente administrados para prevenir o desenvolvimento de LRA, a sua administração em excesso tem também o potencial de causar LRA. Resta claro, portanto, a importância e a necessidade de monitorar os efeitos do fluido administrado a nível da circulação dos vasos renais.

Em pacientes sépticos com choque, estudos tem focado sua atenção em buscar metas seguras de pressão arterial média (PAM) usando estratégias de ressuscitação volêmica e de vasopressores. Para a maioria dos pacientes alvos de 65 a 70 mmHg parecem ser adequados. Em pacientes com 65 anos ou mais, podem utilizar alvos de PAM mais permissivos, entre 60-65 mmHg, sem que isso signifique aumento de eventos adversos (SEPSISPAM trial, OVATION trial e 65 trial). Para fins práticos, 65 mmHg tem sido o alvo usado para guiar o manejo inicial do choque em pacientes sépticos, conforme reafirmado na última publicação das diretrizes do Surviving Sepsis Campain recentemente publicada[1] [2].

Tradicionalmente, a hipoperfusão renal devida a baixo débito cardíaco (hipotensão arterial, choque) tem sido considerada o fator principal da lesão renal aguda, daí o interesse em alvos de PAM que previnam ou tratem esta disfunção orgânica.

O lado venoso da circulação que sempre desempenhou um papel secundário em relação ao lado arterial, pode, no entanto, ser tão crítico quanto sua contraparte arterial. Já em 1931, Winton notou que o impacto do aumento da pressão venosa era maior do que uma diminuição igual da pressão arterial em termos de débito urinário[3]. De fato, o aumento da pressão venosa central (PVC) está associado ao comprometimento da função renal e independentemente relacionado à mortalidade por todas as causas em um amplo espectro de pacientes com doença cardiovascular[4]. Pacientes com pressão venosa central aumentada (por exemplo, devido à insuficiência cardíaca direita ou sobrecarga volêmica) podem não atingir a pressão de perfusão média adequada para o rim com uma PAM de 65 mmHg[5].

Assim, o valor da PVC ao lado da PAM, tem sido objeto de estudo visando integrar essas duas variáveis hemodinâmicas e analisar seus efeitos hemodinâmicos na perfusão de órgãos, principalmente o rim.  Uma PVC elevada e consequentemente o aumento retrogrado da pressão venosa, também tem impacto negativo na função renal, principalmente devido à congestão venosa renal e aumento da pressão intrarrenal, resultando em uma queda na taxa de filtração glomerular (TFG). Os mecanismos teorizados para esta associação são o aumento da pressão da veia renal, o que causa uma redução no gradiente de pressão glomerular, reduzindo, desta forma, a TFG, e a elevação resultante da pressão do interstício renal (redução do gradiente arteriolar pré-capilar e venular pós capilar), que pode levar a compressão tubular e hipóxia do parênquima[6] [7]. Em animais tem se visto que a retenção de líquido intersticial acompanhada da redução do débito cardíaco causa congestão e edema renal. Devido à natureza não distensível da cápsula renal, o edema intersticial comprime os capilares agravando a hipóxia[8].

A maioria das evidências derivam de estudos em pacientes com doenças cardiovasculares, nos quais, uma associação entre congestão venosa renal e o desenvolvimento de LRA foi repetidamente demostrado. Desta forma, tem sido sugerido que a pressão de perfusão média (PPM) entendida como a diferencia em a PAM e a PVC (PPM = PAM – PVC) pode servir como um marcador hemodinâmico que reflita o risco de congestão venosa retrograda[9]. Referência em fisiologia cita que a pressão normal do átrio direito seria 0 mmHg, equivalente à pressão atmosférica, em um adulto com respiração espontânea; e mudanças na posição corporal geralmente não afetam a medição de pressão por mais de 1 a 2 mmHg. Portanto, a pressão de átrio direito (PAD) normal aferida pela PVC seria de 0 a 2 mmHg[10]. Esta pressão venosa poderá variar de acordo com estados mórbidos diferentes. Um estudo analisou a PVC por cateterismo cardíaco direito em pacientes com diversas doenças cardiovasculares, encontrando um valor médio de PVC no tercil inferior de 2 mmHg. Entretanto, analisando em toda a coorte p valor médio da PVC foi de 6 mmHg[11]. Considerando que a PVC pode atingir valores excessivamente elevados levando a congestão venosa, tem sido levantada a questão que os alvos de PAM tradicionalmente adotados poderiam não ser adequados para prevenir a lesão renal aguda por congestão venosa retrograda (LRA)[12].

Alvos de PPM, levando consideração valores tanto da PAM quanto da PVC, para prevenir LRA tem sido objeto de estudos. Em 2017, Ostermann M. e col. num estudo retrospectivo, avaliando 2118 pacientes de UTI, encontraram que uma PPM < 60 mmHg foi independentemente associada à progressão da LRA[13]. Em 2020, Buyun Wu e col., analisaram os dados armazenados em 3 bancos de dados, de pacientes criticamente enfermos, encontrando que a PPM superou a PAM como um preditor de LRA. PPM de 65 mmHg ou mais pode ser o alvo ideal para o tratamento de LRA em pacientes criticamente enfermos. Um alvo ainda mais mais alto poderia reverter ou prevenir LRA[14].

Entretanto, a análise da micro hemodinâmica renal, considera que a verdadeira pressão de perfusão média do órgão não seria de fato a PPM, mas sim ao gradiente entre a pressão arteriolar pré-capilar menos a pressão venular pós-capilar peritubular.

Os capilares renais peritubulares se originam das arteríolas eferentes dos glomérulos superficiais e justamedulares. Os capilares provenientes dos glomérulos superficiais formam uma rede densa no córtex e aqueles dos glomérulos justamedulares seguem os túbulos em direção à medula, onde os capilares são conhecidos como vasos retos. Os capilares peritubulares possuem duas funções principais. Primeira, esses vasos suprem de oxigênio e nutrientes as células epiteliais tubulares. Segunda, eles são responsáveis por recuperar do espaço intersticial o fluido reabsorvido pelos túbulos. As forças de Starling que governam a filtração nos capilares sistêmicos também se aplicam aos capilares peritubulares, com algumas diferenças na sua dinâmica. Enquanto nos capilares sistêmicos, as forças de Starling favorecem a filtração na extremidade arteriolar e a absorção na extremidade venular, nos capilares glomerulares a dinâmica se aseelha à parte inicial dos capilares sistêmicos: as forças de Starling sempre favorecem a filtração. Já nos capilares peritubulares a dinâmica se assemelha à parte final dos capilares sistêmicos: as forças de Starling sempre favorecem a absorção. Os capilares peritubulares são únicos porque eles são precedidos pelos capilares glomerulares e pela arteríola eferente. A filtração glomerular (filtrado desproteinizado) eleva a pressão oncótica do sangue que chega à rede de capilares peritubulares (πCP) para ≈35 mmHg. Além disso, a resistência da arteríola eferente diminui a pressão hidrostática intravascular (PCP) para ≈20 mmHg. Por outro lado, a pressão oncótica intersticial (πO) varia entre 4 e 8 mmHg (bastante menor que a do extremo arteriolar do capilar, gerando força de entrada de líquido) e a pressão hidrostática intersticial (PO) varia provavelmente entre 6 e 10 mmHg (também menor que a pressão do extremo arteriolar do capilar, gerando força de saída de líquido). O efeito bruto do balanço entre tais pressões é uma grande pressão absortiva resultante no início do capilar peritubular (extremo arteriolar do capilar). Ao longo desse capilar, a πCP cai um pouco devido à reabsorção do fluido pobre em proteínas a partir do interstício em direção ao capilar, assim como também ocorre uma queda modesta da pressão hidrostática. Ainda assim, as forças de Starling continuam em favor da absorção ao longo de todo o capilar peritubular, sendo de ≈17 mmHg na extremidade arteriolar e caindo para ≈12 mmHg na extremidade venular (Gráficos 1 e 2).

 

 

Grafico 1. Valores de pressão  no capilar peritubular renal (extraído do Boron WF, Boulpaep EL (2012) Medical physiology: a cellular and molecular approach, 2nd edn. Saunders/Elsevier, Philadelphia. Tradução da 2ª edição atualizada


Gráfico 2. Valores de pressão absortiva nos capilares renais peritubulares renais (extraído do Boron WF, Boulpaep EL (2012) Medical physiology: a cellular and molecular approach, 2nd edn. Saunders/Elsevier, Philadelphia. Tradução da 2ª edição atualizada


A pressão absortiva resultante no início do capilar peritubular está sujeita aos efeitos da dinâmica do fluido glomerular. Por exemplo, a expansão de volume do fluido extracelular inibe o sistema renina-angiotensina e leva a uma redução relativamente maior da resistência arteriolar eferente quando comparada à resistência arteriolar aferente, o que resulta em um aumento da PCP. A queda na resistência arteriolar total gera um aumento no fluxo plasmático renal (FPR) maior do que o aumento na taxa de filtração glomerular (TFG), o que resulta na queda da fração de filtração. Portanto, mais fluido permanece no interior dos capilares glomerulares, e o sangue que chega aos capilares peritubulares não apresenta a pressão oncótica tão elevada como seria em outras condições (p. ex, πCP < 35 mmHg). A queda na resistência arteriolar eferente também eleva a PCP (p. ex., PCP > 20 mmHg). Como consequência da baixa πCP e da alta PCP, o capilar peritubular recupera menos fluido intersticial promovendo edema intersticial peritubular. Os capilares linfáticos são encontrados principalmente no córtex. As proteínas escoam constantemente dos capilares peritubulares em direção ao fluido intersticial e os capilares linfáticos fornecem uma rota importante para remoção dessas proteínas. O fluxo linfático renal total é pequeno e perfaz menos de 1% do FPR[15].

Extraído do Boron WF, Boulpaep EL (2012) Medical physiology: a cellular and molecular approach, 2nd edn. Saunders/Elsevier, Philadelphia. Tradução da 2ª edição atualizada

 

MOVIMENTO DE FLUIDO ATRAVÉS DO ENDOTÉLIO CAPILAR

O movimento do fluido entre os compartimentos vascular e intersticial é regulado pelo equilíbrio entre a pressão hidrostática capilar e a pressão oncótica plasmática. Em condições normais, o equilíbrio entre essas forças resulta em fluxo líquido de fluido para o interstício conhecido como filtração capilar de acordo com a equação de Starling que afirma o seguinte:

 

Onde Q é o volume de filtração transcapilar/segundo, Pcap é a pressão hidrostática capilar, Pint é a pressão hidrostática intersticial, πp é a pressão oncótica do plasma, πint é a pressão oncótica intersticial, Lp é a condutividade hidráulica da membrana, S é a área de superfície para filtração, e σ é o coeficiente de reflexão de Staverman.

O acúmulo de fluido resultante no espaço intersticial é removido pelos linfáticos. Durante a inflamação ou condições que alteram a permeabilidade da membrana capilar, há um excesso de fluido resultante no espaço intersticial, comumente referido como edema intersticial. A pressão hidrostática capilar aumentada, a pressão oncótica plasmática reduzida e a permeabilidade capilar aumentada têm o potencial de aumentar a filtração de fluido através da membrana capilar e, portanto, levar à formação de edema.

 

CAMADA ENDOTELIAL DE GLICOCALYX

O glicocálice endotelial (GCE) é uma camada rica em carboidratos que reveste a superfície endotelial do endotélio vascular com espessura média de cerca de 2 μm (0,2–8 μm). Esta camada desempenha um papel importante na filtração transcapilar líquida e depois de compreender seu papel, a equação de Starling foi modificada como:


onde πg representa a pressão oncótica subglicocálice.

Muitos fatores danificam o GCE, como citocinas inflamatórias, hiperglicemia, peptídeo natriurético atrial (ANP) e lesão de isquemia-reperfusão. O estresse anormal de cisalhamento de sangue, que pode ocorrer na hipervolemia, também aumenta a liberação de glicocálice. A administração rápida de fluido em voluntários saudáveis ​​resultou em níveis plasmáticos elevados de ácido hialurônico, sugestivo de dano ao GCE e, portanto, pode ser prejudicial.

 

PROTEÇÃO CONTRA A FORMAÇÃO DE EDEMA

Embora existam fatores que aumentam o deslocamento transmembrana capilar de fluido, existem vários fatores de segurança que evitam o acúmulo de fluido e, portanto, evitam a formação de edema. Aumento da pressão hidrostática do fluido intersticial devido ao excesso de filtração de fluido, reduções na área de superfície microvascular para troca (como pode ocorrer com vasoconstrição arteriolar) ou aumentos no fluxo linfático podem limitar a formação de edema. À medida que a pressão venosa aumenta, o volume de sangue dentro das vênulas pós-capilares, vênulas maiores e veias aumenta, e estas se projetam para o compartimento extravascular, aumentando assim a pressão do tecido e, assim, diminuindo o deslocamento do fluido para o interstício.

Em indivíduos saudáveis, essa margem de segurança contra a formação de edema é fornecida até uma pressão venosa de cerca de 15 mm Hg, que foi demonstrada pela primeira vez em 1932 por Krogh e colaboradores. Somente quando a hipertensão venosa excede esses níveis, o edema grosseiro se forma. No entanto, com outros fatores, como aumento da permeabilidade capilar e hipoproteinemia (comum em pacientes gravemente enfermos), essa margem de segurança pode ser muito menor, ocorrendo formação de edema com valores menores de pressão venosa.

 

PATOFISIOLOGIA DA HIPERVOLEMIA

A sobrecarga de fluidos leva à disfunção endotelial devido à inflamação e lesão de isquemia-reperfusão, causando danos ao glicocálice e vazamento capilar. O extravasamento capilar leva ao edema intersticial e, ao mesmo tempo, devido à perda significativa de volume para o compartimento intersticial, há redução do volume intravascular circulante. Isso pode levar à redução da pressão de perfusão renal e, subsequentemente, à LRA.

Além disso, o edema intersticial leva ao comprometimento da difusão de oxigênio e metabólitos dos capilares para os tecidos. O edema intersticial aumenta a pressão do tecido e leva à obstrução da drenagem linfática e a distúrbios na interação célula a célula, o que leva à falência progressiva de órgãos. A capacidade do rim de acomodar pressões intersticiais hidrostáticas crescentes é limitada devido à cápsula renal e, portanto, todos esses efeitos são vistos de forma mais proeminente no rim. Eles causam congestão renal, redução da perfusão renal e filtração glomerular e, subsequentemente, levam ao desenvolvimento de LRA.

A sobrecarga de fluido também é conhecida por causar distensão dos átrios e alongamento das paredes dos vasos, causando a liberação de ANP, o que ainda leva a danos de GCE, e a cascata leva a LRA (Fluxograma 1)


 

 Fluxograma 1. 


HIPERVOLEMIA, HIPERTENSÃO INTRA-ABDOMINAL (HIA) E SEUS EFEITOS NO RIM

Reanimação maciça com fluidos e balanço hídrico positivo são fatores de risco conhecidos para o desenvolvimento de hipertensão intra-abdominal (HIA). A pressão intra-abdominal (PIA) em adultos normais varia de 4 a 7 mmHg. A HIA é definida como elevação patológica sustentada ou repetida da PIA > 12 mmHg. A elevação sustentada da PIA de > 20 mmHg está associada à disfunção orgânica, quadro conhecido como síndrome compartimental abdominal (SCA). Estudos têm demonstrado que a HIA é um fator de risco independente para o desenvolvimento de LRA. A PIA elevada leva à compressão dos vasos intra-abdominais, causando comprometimento do fluxo sanguíneo microvascular e aumento da congestão venosa renal. Isso resulta em fluxo plasmático renal prejudicado e taxa de filtração glomerular diminuída, causando LRA. A associação entre aumento da PIA e fluxo sanguíneo renal foi demonstrada em 1947. Em seu estudo em voluntários humanos saudáveis, Bradley et al. mostraram que quando a PIA foi aumentada para 20 mmHg, o fluxo plasmático renal efetivo caiu 24,4%. Além disso, todos os voluntários ficaram oligúricos com uma redução média do fluxo urinário de 57,4%. À medida que a PIA se aproxima da HIA, as pressões da veia renal aumentam, causando congestão vascular intrarrenal, que pode levar a LRA. Com o aumento da PIA, conforme se aproxima dos níveis da síndrome campartimental abdominal (SCA), fatores adicionais, como queda no débito cardíaco e níveis elevados de catecolaminas, renina, angiotensina e outras citocinas inflamatórias, podem piorar ainda mais a função renal.

A sobrecarga de fluidos também pode ser a causa de sepse, que será um contribuinte adicional para o desenvolvimento de LRA. Isto porque a sobrecarga de fluidos, causa edema da parede intestinal, levando ao comprometimento da função de barreira intestinal e translocação bacteriana, que são conhecidas por serem as principais fontes de sepse endógena. A lesão renal aguda é conhecida por ser um estado imunocomprometido e também está associada à liberação de citocinas, resistência à insulina e estresse oxidativo. Isso contribui ainda mais para a sepse.

 

CONCLUSÕES:

A fluidoterapia, usada como pilar fundamental da ressuscitação volêmica do paciente crítico, deve ser sempre guiada por parâmetros que incluam a avaliação da volemia do paciente, sua responsividade a fluidos (fluidoresponsividade) mas também os possíveis efeitos deletérios que a própria reposição volêmica possa ocasionar (fluidotolerância). Desta forma, um paciente pode ser fluidoresponsivo, porém pode também já ter atingido um grau elevado de congestão venosa, suficiente para provocar disfunção orgânica, especialmente a nível renal (LRA).

A pratica de uma fluidoterapia “as cegas” ou sem parâmetros que estabeleçam limites, mesmo em pacientes fluidoresponsivos deve ser desencorajada.

Nesse sentido a avaliação de um possível estado de congestão venosa, sempre deve ser parte da monitorização hemodinâmica de todo paciente crítico, especialmente durante a fase de ressuscitação volêmica.



[1] https://pebmed.com.br/cbmi-2020-qual-deve-ser-a-meta-de-pressao-arterial-na-uti/

[2] Evans L, Rhodes A, Alhazzani W, et al. Surviving sepsis campaign: international guidelines for management of sepsis and septic shock 2021 [published online ahead of print, 2021 Oct 2]. Intensive Care Med. 2021; doi: 10.1007/s00134-021-06506-y

iClinic apresenta:

[3] Winton FR (1931) A influência da pressão venosa no rim de mamífero isolado. J Physiol 72 (1): 49–61. https://doi.org/10.1113/jphysiol.1931.sp002761

[4] Kevin Damman, Vincent M. van Deursen, Gerjan Navis, Adriaan A. Voors, Dirk J. van Veldhuisen, Hans L. Hillege, Increased Central Venous Pressure Is Associated With Impaired Renal Function and Mortality in a Broad Spectrum of Patients With Cardiovascular Disease, Journal of the American College of Cardiology, Volume 53, Issue 7, 2009, Pages 582-588, ISSN 0735-1097, https://doi.org/10.1016/j.jacc.2008.08.080.

[5] Kellum, J.A., Romagnani, P., Ashuntantang, G. et al. Acute kidney injury. Nat Rev Dis Primers 7, 52 (2021). https://doi.org/10.1038/s41572-021-00284-z

[6] Bagga A, Bakkaloglu A, Devarajan P, Mehta RL, Kellum JA, Shah SV, et al. Improving outcomes from acute kidney injury: report of an initiative. Pediatr Nephrol.2007;22(10):1655-8.

[7] Damman K, van Deursen VM, Navis G, Voors AA, van Veldhuisen DJ, Hillege HL. Increased central venous pressure is associated with impaired renal function and mortality in a broad spectrum of patients with cardiovascular disease. J Am Coll Cardiol. 2009;53(7):582-8.

[8] ROSS, S. Uremia aguda no gato. Veterinary Focus, London, v.18, p. 23-30, 2009.

[9] Ostermann M, Hall A, Crichton S. Low mean perfusion pressure is a risk factor for progression of acute kidney injury in critically ill patients - A retrospective analysis. BMC Nephrol. 2017 May 3;18(1):151. doi: 10.1186/s12882-017-0568-8. PMID: 28468613; PMCID: PMC5415805.

[10] Guyton AC, Hall JE. Vascular distensibility and functions of the arterial and venous systems. Textbook of medical physiology. 11th Ed. Elsevier Inc; 2006. p. 171-80.

[11] Damman K, van Deursen VM, Navis G, Voors AA, van Veldhuisen DJ, Hillege HL. Increased central venous pressure is associated with impaired renal function and mortality in a broad spectrum of patients with cardiovascular disease. J Am Coll Cardiol 2009;53:582-8.

[12] Forni LG, Joannidis M. Blood pressure deficits in acute kidney injury: not all about the mean arterial pressure? Crit Care. 2017 May 4;21(1):102. doi: 10.1186/s13054-017-1683-4. PMID: 28468676; PMCID: PMC5415755.

[13] Ostermann M, Hall A, Crichton S. Low mean perfusion pressure is a risk factor for progression of acute kidney injury in critically ill patients - A retrospective analysis. BMC Nephrol. 2017 May 3;18(1):151. doi: 10.1186/s12882-017-0568-8. PMID: 28468613; PMCID: PMC5415805.

[14] Buyun Wu, et.al., Searching Optimal Target of Perfusion Pressure for Managing Acute Kidney Injury in Critically Ill Patients: An Analysis of Three Large Open Databases. Research Square. https://www.researchsquare.com/article/rs-125409/latest. DOI: 10.21203/rs.3.rs-125409/v1

[15] Boron WF, Boulpaep EL (2012) Medical physiology: a cellular and molecular approach, 2nd edn. Saunders/Elsevier, Philadelphia. Tradução da 2ª edição atualizada: https://pt.br1lib.org/book/4984466/e2a414?dsource=recommend

 







sábado, 16 de outubro de 2021


PRÁTICAS ANTES, DURANTE E APÓS O PROCEDIMENTOS DE CATETERISMO CARDÍACO


Dr. Alejandro Enrique Barba Rodas. Médico Responsável Técnico e Coordenador da Unidade Coronariana da Santa Casa de São Jose dos Campos. Coordenador da Residência em Medicina Intensiva – COREME e membro do Grupo Técnico de Enfrentamento à COVID -19 da Santa Casa de São Jose dos Campos.


Mais de 1 milhão de procedimentos de cateterismo cardíaco são realizados todos os anos nos Estados Unidos, principalmente para estudar e tratar pacientes com suspeita de doença arterial coronária (DAC) e outros distúrbios relacionados.

Desde a introdução da angiografia coronária seletiva por Mason Sones na década de 1950, o procedimento de cateterismo evoluiu rapidamente e expandiu tanto seu campo de abrangência quanto suas técnicas e, agora, também inclui, além dos procedimentos coronários propriamente ditos, vasculares periféricos e cardíacos estruturais.

Durante essa evolução, muitas práticas surgiram com base em evidências, enquanto outras com base em crenças e preocupações teóricas. Algumas dessas práticas tradicionais são seguidas cegamente e não estão baseadas em evidências atuais sólidas.

A Declaração de Consenso de Especialistas de 2016 da Society for Cardiovascular Angiography and Interventions sobre as melhores práticas na unidade de cateterismo cardíaco, delineou as práticas pré-procedimento, intra-procedimento e pós-procedimento, com foco nas questões padrão que cercam o gerenciamento do cateterismo.

Uma recente revisão da Amercan Heart Association (AHA) acaba de ser publicada na revista Circulation, visando rever as práticas atualmente realizadas e, à luz, das evidências atuais, recomendar sua continuação ou descontinuação[1].

O texto publicado neste Blog foi elaborado com base na revisão acima mencionada, acrescentando outras ponderações do autor, cujas referências serão citadas.

 

A. PRÁTICAS PRÉ-PROCEDIMENTOS DE CATETERISMO

1. JEJUM PRÉ-CATETERISMO

É uma prática comum prescrever NPO (nada por via oral) depois da meia-noite ou várias horas antes do cateterismo. A justificativa dessa orientação decorre da possibilidade de ocorrer vômito associado ao uso de ​​contraste iônicos hiperosmolar e durante procedimentos com sedação consciente. Como consequência da sedação, os reflexos de proteção das vias aéreas podem estar prejudicados e, na ocorrência de vômito aumentar o risco de broncoaspiração. Uma segunda razão para o NPO, é a de manter “estômago vazio” caso houvesse necessidade de sedação e intubação de emergência diante de alguma intercorrência durante o procedimento de cateterismo.

A evidência para apoiar jejum > 12 horas é limitada. A incidência de vômitos na prática moderna com agentes de contraste isoosmolar ou hipoosmolar é baixa. Além disso, a necessidade de intubação de emergência em pacientes submetidos à intervenção coronária percutânea (ICP) também é extremamente rara (≤0,1%). Não há nenhuma evidência convincente para sugerir que o jejum prolongado tornará os procedimentos que requerem sedação consciente mais seguros. Meta-análise de ensaios clínicos randomizados (ECRs) comparando tempos de jejum de 2 a 4 horas com > 4 horas não mostrou diferença no volume gástrico e pH gástrico, nos tempos de jejum mais curtos. De fato, tempos de jejum mais curtos foram associados a menos sede e fome (e, portanto, melhor satisfação do paciente) e menor risco de aspiração. Além disso, o jejum prolongado pode levar a consequências adversas, incluindo desidratação; aumento do risco de lesão renal aguda, especialmente em pacientes com diabetes e doença renal crônica; hipoglicemia; e diminuição da satisfação do paciente. No estudo CHOW NOW de centro único (Can We Safely Have Our Patients Eat With Cardiac Catherization – Nix or Allow; The CHOW NOW Study), pacientes foram aleatoriamente designados para jejum padrão (NPO depois da meia-noite com líquidos claros até 2 horas antes do procedimento) versus sem jejum (sem restrição à ingestão oral). A incidência do desfecho primário composto (nefropatia induzida por contraste, hipotensão periprocedimento, pneumonia aspirativa, náusea/vômito, hipoglicemia e hiperglicemia) foi avaliada em 599 pacientes submetidos a cateterismo cardíaco. Neste ensaio, o desfecho primário no grupo sem jejum não foi inferior (p = 0,059) ao grupo com jejum padrão (11,3% versus 9,8%; p = 0,65), e não houve diferenças na satisfação do paciente e tempo de internação hospitalar. Em um ECR de 2.091 participantes encaminhados para uma tomografia computadorizada não emergencial com contraste, o consumo irrestrito de líquidos e sólidos até o momento da varredura não foi associado a um maior risco de pneumonite por aspiração (desfecho primário 0% versus 0%) ou um aumento clinicamente significativo nas taxas de sintomas gastrointestinais adversos (vômitos: 2,6% versus 3,0% [p = 0,58]) quando comparado a um período de jejum de pelo menos 4 horas.

PORTANTO:

  • N.P.O. DEVE FICAR A CRITÉRIO DO INTERVENCIONISTA, que deverá avaliar o risco de broncoaspiração do paciente, podendo não ser necessário para pacientes submetidos a procedimentos apenas com anestesia local e sem sedação, nos quais os reflexos de proteção das vias aéreas superiores não estão prejudicados e não estão presentes fatores de risco para aspiração pulmona.
  • Em regra, adota-se a diretriz de prática atualizada de 2017 da Sociedade Americana de Anestesiologistas recomenda: LÍQUIDOS CLAROS ATÉ 2 HORAS ANTES E UMA REFEIÇÃO LEVE ATÉ 6 HORAS ANTES DO PROCEDIMENTO
  • Embora estudos clínicos recentes sugiram que o não jejum não seja inferior às recomendações atuais padrão da Sociedade Americana de Anestesiologistas; mais estudos são necessários para avaliar se o NPO fornece uma estratégia de tratamento superior.

 

 2. SUSPENSÃO DE MEDICAMENTOS

 É uma prática comum recomendar a suspensão de medicamentos tais como metformina, hipoglicemiantes orais e insulina, IECA/BRA e anticoagulantes orais antes do procedimento de cateterismo cardíaco. Contudo, a evidência para essas recomendações não é clara (Figura 1).

 

Figura 1.

 

2.1 METFORMINA

Usualmente se recomenda suspender a metformina no dia do procedimento e 48 horas após a angiografia coronária. A justificativa para esta recomendação é que os pacientes com diabetes têm um alto risco de nefropatia induzida pelo contraste (NIC) e de LRA levando ao acúmulo de metformina (ela se excreta de forma inalterada por via renal) e a um risco aumentado de acidose láctica induzida por metformina (ALIM), que é caracterizada por uma concentração elevada de lactato sanguíneo, pH sanguíneo diminuído, hiato aniônico aumentado e mortalidade mais alta.

A evidência para apoiar esta recomendação é fraca. Um ensaio randomizado de uso de metformina versus placebo iniciado logo após a intervenção coronária percutânea primária (ICP) em pacientes com infarto do miocárdio com elevação do segmento ST mas sem diabetes ou sem disfunção renal não mostrou aumento na LRA. Da mesma forma, em um ensaio randomizado de pacientes com diabetes e insuficiência renal leve ou sem insuficiência renal, a continuação da metformina durante a angiografia não foi associada com maior taxa de NIC ou de acidose láctica induzida pela metformina em comparação com a descontinuação da metformina. Na verdade, no grupo que continuou a metformina, a taxa de redução na taxa de filtração glomerular estimada (eTFG) após a angiografia coronária foi significativamente menor do que naqueles que interromperam a metformina, sugerindo talvez até um efeito benéfico da metformina na função renal. Além disso, uma meta-análise do Cochrane com 347 ensaios comparativos e estudos de coorte, incluindo 143 estudos que permitiram a inclusão de pacientes com insuficiência renal, não mostrou nenhum caso de acidose láctica fatal ou não fatal em 70.490 pacientes-ano de uso de metformina ou em 55.451 pacientes- anos no grupo sem metformina, sugerindo que a acidose láctica associada à metformina é rara.

Fisiopatologia da NIC[2].

A fisiopatologia da NIC é complexa e parcialmente compreendida. O que exatamente acontece dentro de um rim humano in vivo só pode ser especulado a partir dos resultados de estudos principalmente em animais e de laboratório. Em condições fisiológicas de repouso, 25% do débito cardíaco é direcionado para os rins. A maioria é direcionada ao córtex, para otimizar a filtração glomerular e a reabsorção de água e sais. O fluxo sanguíneo medular é baixo e sua função é preservar gradientes osmóticos e aumentar a concentração urinária. O fluxo sanguíneo para a medula renal é derivado das arteríolas eferentes dos glomérulos justamedulares. Na junção corticomedular, essas arteríolas eferentes dão origem aos chamados vasos retos distais (VRD). Esses VRD formam gradualmente um leito capilar que penetra profundamente na medula interna. Esses capilares eventualmente se aglutinam para formar a vasa reta ascendente (VRA). A transformação do VRD em VRA ocorre gradualmente com alterações histológicas na composição da parede do vaso. A lesão medular hipóxica causada pelo meio de contraste iodado (MC) desempenha um papel crítico na NIC. Isso é causado por três vias diferentes, mas potencialmente interagentes: efeitos hemodinâmicos do MC; o efeito de espécies reativas de oxigênio (ROS) e radicais livres e toxicidade celular tubular direta da molécula do MC.

Efeitos hemodinâmicos

Em circunstâncias fisiológicas, os níveis regionais de PO2 da medula renal podem ser tão baixos quanto 20 mmHg. A parte mais vulnerável do dano por hipóxia é a porção mais profunda da medula externa que contém os ramos ascendentes espessos metabolicamente ativos da alça de Henle. Nessa parte do sistema tubular, um gradiente osmótico é gerado pela reabsorção ativa de sódio, processo que requer grande quantidade de oxigênio para geração de energia (ATP). A resposta hemodinâmica à injeção intra-arterial de meio de contraste é bifásica: inicialmente, um breve aumento no fluxo sanguíneo renal, seguido por um declínio prolongado de 10-25% abaixo da linha de base. Isso afeta principalmente o fluxo sanguíneo cortical, pois apenas 10% do fluxo sanguíneo renal representa o fluxo medular. Foram relatados declínios da PO2 medular externa para 9-15 mmHg, em 50-67% após a administração de meio de contraste. O mecanismo de hipóxia medular é uma combinação de um declínio no fluxo sanguíneo microcirculatório regional e aumento da demanda de oxigênio das células tubulares. A injeção de meio de contraste leva a um aumento transitório do fluxo plasmático renal, filtração glomerular e débito urinário. Quanto maior a osmolaridade do meio de contraste injetado, maiores são esses efeitos. Tanto pela carga osmótica, quanto pelo efeito da liberação de endotelina, mais sódio tem que ser reabsorvido pelas células tubulares distais, levando ao aumento do consumo de oxigênio. O declínio no fluxo sanguíneo regional posterior foi atribuído à secreção de mediadores vasoativos que ocorre em resposta à administração do meio de contraste. Basicamente, ocorre um desequilíbrio entre os mediadores vasoconstritores e vasodilatadores. Muitos mediadores têm sido relacionados à administração de meio de contraste. Vasodilatadores medulares proeminentes são adenosina, dopamina, óxido nítrico (NO), peptídeo natriurético atrial (ANP) e prostaglandina E2. Os vasoconstritores atuam mais sobre os vasos corticais, diminuindo a filtração glomerular. Vasoconstritores potentes são vasopressina, angiotensina II e endotelina. Os potenciais participantes adicionais, tanto dilatadores quanto constritivos na fisiopatologia, são: serotonina, bradicinina, leucotrienos, histamina e catecolaminas. Até que ponto cada mediador desempenha um papel é desconhecido. Além disso, a distribuição de subtipos de mediadores de receptor no córtex e medula pode ser responsável por diferentes respostas hemodinâmicas regionais.

Mais informações sobre a resposta da microvasculatura medular ao MC foram fornecidas por Sendeski et al. O diâmetro médio do VRD é de 12-18 μm, próximo ao de um glóbulo vermelho. Em VRDs de ratos isolados, foi demonstrado que a microperfusão com iodixanol leva a uma redução de diâmetro de 48%. Isso foi devido a uma diminuição na produção de NO e um aumento da reatividade do VRD à angiotensina II. A adição de um eliminador de radicais livres evitou a vasoconstrição induzida por iodixanol e angiotensina-II. Pesquisas adicionais do mesmo grupo mostraram que o iodixanol tem um efeito vasoconstritor mais pronunciado nas arteríolas aferentes do que nas arteríolas eferentes. A diminuição da disponibilidade de NO e o aumento da concentração de superóxido explicaram o aumento do tônus ​​e da reatividade das arteríolas aferentes.

Espécies reativas de oxigênio (ROS)

Os radicais livres são átomos ou moléculas que contêm um ou mais elétrons desemparelhados. Os exemplos são superóxido (O2-) e radical hidroxila (OH-). Essas moléculas são transformadas em água após sucessivas reações de redução. Moléculas de reação menos agressiva, como H2O 2, são chamadas de ROS. Em condições fisiológicas, a formação de ROS tubular medular desempenha um papel importante nos processos de sinalização celular, regulação da microcirculação regional e transporte tubular por seus efeitos na concentração de NO e atividade de transporte tubular. A hipóxia medular se desenvolve após a administração do meio de contraste, tanto pela diminuição do fluxo sanguíneo medular quanto pelo aumento da demanda de oxigênio das células tubulares devido ao aumento da reabsorção de sódio. Isso leva ao aumento da formação de ROS e estresse oxidativo, um desequilíbrio entre oxidantes e antioxidantes em favor dos oxidantes. Os mecanismos de formação aumentada de ROS são complexos e apenas parcialmente compreendidos. Uma vez excedendo as capacidades de eliminação celular, as ROS levam à chamada lesão de isquemia-reperfusão. Isso se refere à lesão celular causada por efeitos combinados de hipóxia e dano oxidativo mediado por ROS. Este último afeta o DNA mitocondrial e nuclear, os lipídios da membrana e as proteínas celulares. ROS desempenham um papel importante na microcirculação renal alterada. Eles desencadeiam e aumentam a vasoconstrição induzida por angiotensina-II e endotelina-I. Além disso, a biodisponibilidade do NO vasodilatador é reduzida pelas ROS.

Toxicidade de células tubulares

Os efeitos tóxicos diretos do MC só podem ser estudados in vitro, pois o efeito de outros mecanismos de lesão celular, como a hipóxia, pode ser descartado. Em geral, os efeitos tóxicos dos MC de alta osmolaridade são mais pronunciados do que os efeitos do MC de baixa osmolaridade ou dos isoosmolares. Os efeitos citotóxicos do MC nas células mesangiais glomerulares incluem efeitos apoptóticos, associados a níveis elevados de ROS intracelulares. Isso mostra como os mecanismos fisiopatológicos da NIC interagem e potencializam-se mutuamente. Entretanto, efeitos diretos do MC nas células tubulares foram descritos, incluindo redistribuição de proteínas de membrana, redução do Ca2+ extracelular, fragmentação do DNA, ruptura das junções intercelulares, proliferação celular reduzida, apoptose e função mitocondrial alterada.

Em conclusão, a NIC é uma consequência da isquemia medular pelo aumento do consumo de oxigênio das células tubulares e pela diminuição da perfusão. Isso leva à formação de ROS, que aumentam o efeito dos mediadores vasoconstritores e reduzem a biodisponibilidade dos mediadores vasodilatadores. Além disso, a formação de ROS leva a danos oxidativos às células tubulares. O MC também tem um efeito tóxico direto nas células tubulares, com o aumento da formação de ROS como consequência. Essas três vias de interação podem finalmente levar à necrose tubular.

Acidose Láctica Associada à Metformina (Metformin-Associated Lactic Acidosis - MALA)

Até 2016, a Food and Drug Administration (FDA) contraindicava o uso de metformina em homens com creatinina sérica ≥1,5 mg/dL e mulheres com creatinina sérica ≥1,4 mg/dL pelo risco de acidose láctica (AL) associada a insuficiência renal. Esta restrição decorreu do aumento do risco de AL observado em pacientes recebendo fenformina, o predecessor da metformina na classe da biguanida que foi removida do mercado dos EUA em 1977. Como a metformina é eliminada inalterada pelos rins, temia-se que concentrações elevadas de metformina em pacientes com DRC também podem aumentar o risco de AL. Em abril de 2016, a FDA após revisão da literatura existente, relaxou as restrições renais para a metformina, mudando de uma contraindicação baseada na creatinina sérica para uma que usa a taxa de filtração glomerular estimada (eTFG). A alteração permite a iniciação da metformina em indivíduos com eTFG ≥ 45 mL/min/1,73 m² (Estágio 3a do KDIGO para DRC), o uso com monitoramento mais próximo em pacientes com eTFG 30 – 44 mL/min/1,73 m² (Estágio 3b do KDIGO para DRC) e a restrição de uso em pacientes com eTFG < 30 mL/min/1,73 m² (Estágios além do 3ª do KDIGO para DRC) [3].

A MALA é primariamente uma acidose láctica de tipo B e alguns autores distinguem 3 termos: 1) Metformin-Induced Lactic Acidosis (MILA), em que altos níveis de metformina (overdose de metformina) são a principal causa da acidose láctica grave, podendo ocorrer de forma aguda na ausência de disfunção renal, ou de forma subaguda na presença dela. A quantidade precisa de metformina necessária para fazer isso não está clara, mas parece ser alta (> 20 gramas).

A insuficiência renal progressiva (com TFG <30 ml / min) eventualmente leva ao acúmulo de metformina e toxicidade. Esses pacientes podem apresentar acidose láctica acentuada, mas têm hemodinâmica bastante preservada e aparentam estar bem. Metformin-Associated Lactic Acidosis (MALA), na qual a metformina amplifica o grau de acidose láctica, mas não é a única causa da doença. O paciente que toma metformina desenvolve uma doença aguda com risco de vida (por exemplo, choque séptico, choque cardiogênico). Os fatores de risco incluem insuficiência renal, doses mais altas de metformina e alcoolismo. Metformin-Unrelated Lactic Acidosis (MULA), na qual a metformina é um espectador inocente. Os níveis de metformina são baixos. Clinicamente, pode ser impossível diferenciar isso de MALA. A diferenciação de MULA de MALA requer a medição dos níveis de metformina, que não está disponível na maioria dos hospitais[4]

 Sua fisiopatologia é complexa. A metformina promove a conversão de glicose em lactato no leito esplâncnico do intestino delgado. A metformina também inibe o complexo 1 da cadeia respiratória mitocondrial, levando à diminuição da gliconeogênese hepática a partir do lactato, piruvato e alanina. Isso resulta em aumento de lactato por déficit no seu metabolismo e pela maior quantidade de substrato para a produção de novo lactato (a partir do piruvato. Na ausência de overdose aguda, a MALA raramente se desenvolve em pacientes sem comorbidades, como insuficiência renal, hepática ou infecção aguda. Uma revisão sistemática de 347 ensaios e estudos de coorte não revelou nenhum caso de acidose láctica fatal ou não fatal em 47.846 pacientes-ano de uso de metformina e calculou o limite superior da incidência de tal acidose láctica em 4,3 casos por 100.000 pacientes-ano. No entanto, nas raras circunstâncias em que ocorreu MALA, a mortalidade foi alta. Isso foi relatado em várias séries de casos. Em uma série de casos de 49 pacientes tratados com metformina, a mortalidade foi de 45%. Nem os níveis de lactato arterial nem as concentrações de metformina no plasma previram mortalidade. A morte nesses pacientes está mais intimamente relacionada às comorbidades subjacentes. Outra série de casos de 42 pacientes relatou uma taxa de mortalidade de 48% entre os pacientes com envenenamento não intencional por metformina. Neste estudo, o preditor mais preciso de morte foi disfunção hepática, conforme demonstrado por um tempo de protrombina elevado. Em uma série de casos de 66 pacientes com MALA, as concentrações de metformina se correlacionaram com os níveis de creatinina e lactato, embora as concentrações absolutas de metformina e lactato não tenham sido diferentes em sobreviventes e não sobreviventes. A acidose láctica associada à metformina pode ocorrer após sobredosagem aguda (MILA). Em uma série de casos, 11 de 13 pacientes com overdose aguda tinham níveis elevados de lactato. Uma revisão sistemática de estudos envolvendo overdose aguda confirmada de metformina descobriu que o pH sérico mais baixo e as concentrações de lactato sérico mais altas se correlacionavam com o aumento da mortalidade. Nesta revisão, todos os 16 sobreviventes tinham pH sérico acima de 6,9 ​​e lactato sérico abaixo de 25 mmol/L, enquanto 5 dos 6 pacientes com pH abaixo de 6,9 ​​ou lactato acima de 25 mmol/L morreram. O acúmulo de ácido lático clinicamente significativo quase sempre ocorre na presença de comorbidades, como as seguintes: insuficiência renal, doença hepática concomitante, abuso de álcool, insuficiência cardíaca aguda ou instável, história de acidose láctica durante a terapia com metformina, diminuição da perfusão tecidual ou instabilidade hemodinâmica, estados hipóxicos ou doença aguda grave[5].

Quanto ao diagnóstico, vários critérios têm sido propostos, embora sem terem sido adotados formalmente em guidelines. Na literatura encontram-se referências com entendimento que MALA deve-se ser suspeitada em qualquer paciente que apresente todos os cinco critérios a seguir: (1) história de administração de metformina; (2) um nível de lactato acentuadamente elevado (> 15 mmol/L) um grande hiato aniônico (> 20 mmol/L); (3) acidemia grave (pH 7,1); (4) um nível de bicarbonato sérico muito baixo (<10 mmol /L); e (5) uma história de insuficiência renal (taxa de filtração glomerular < 45 mL/min ou nível de creatinina sérica> 2,0 mg / dL)[6] [7] [8]


PORTANTO:


  • METFORMINA PODE SER CONTINUADA EM PACIENTES SEM INSUFICIÊNCIA RENAL (eTFG ≥ 90 mL/min/1,73 m²) OU COM INSUFICIÊNCIA RENAL LEVE (eTFG ≥ 45 mL/min/1,73 m²). As evidências atuais disponíveis não suportam um efeito deletério da continuação da metformina em pacientes com ou sem diabetes.
  • O impacto da continuação da metformina durante a angiografia em pacientes com insuficiência renal moderada ou grave é desconhecido, porque é improvável que seja usada nesta população de pacientes.
  • A metformina é contraindicada em pacientes com eTFG < 30 mL/min/1,73 m² e deve ser monitorizada naqueles com eTFG de 30 a 45 mL/min/1,73 m².

2.2 HIPOGLICEMIANTES ORAIS E INSULINA

É comum recomendar suspender a terapia hipoglicemiante (oral ou insulínica) ou recomendar uso apenas da metade da dose usual de insulina antes do cateterismo em razão do risco de hipoglicemia, especialmente quando indicado junto com o jejum.

Em um ERC de pacientes com diabetes (172 pacientes) designados aleatoriamente para continuar versus suspender terapia hipoglicemiante (incluindo insulina) antes da angiografia coronária, o grupo que continuou obteve melhor controle glicêmico no momento do procedimento do que o grupo que suspendeu (117 [97 –151] versus 134 [117–172] mg / dL, p = 0,002), sem aumento nos eventos adversos, incluindo a incidência de hipoglicemia. Dois pacientes no grupo que contínuo desenvolveram eventos hipoglicêmicos (nenhum no grupo que suspendeu), mas ambos estavam em uso de insulina de ação prolongada, além do hipoglicemiante oral. Além disso, em um subconjunto de pacientes no estudo que se submeteram a medições da atividade plaquetária (n = 75), o grupo que continuou teve menor atividade plaquetária do que o grupo que suspendeu, sugerindo um potencial efeito benéfico da continuação da medicação para redução da glicose.


PORTANTO:

  • Na era atual, onde os tempos de jejum e os tempos de procedimento são mais curtos, a sedação é mínima e os pacientes são capazes de comer logo após o procedimento, CONTINUAR A MEDICAÇÃO HIPOGLICEMIANTE (ESPECIALMENTE ORAL) É RAZOÁVEL, visando preservar o controle glicêmico ideal e evitar o efeito deletério potencial da hiperglicemia, incluindo a ativação plaquetária. 
  • A prática comum de insulina em dose reduzida versus continuação de insulina em dose completa antes do procedimento não foi testada em ensaios clínicos.
  • É importante ressaltar que não há recomendações específicas sobre os agentes mais novos (como os inibidores do cotransportador 2 de sódio-glicose) que apresentam um risco menor ou nenhum de hipoglicemia.

 

2.3 INIBIDORES DO SISTEMA RENINA-ANGIOTENSIVA (IECA/BRA)

Em pacientes com risco de NIC, é uma prática comum defender a suspensão de inibidores da enzima conversora de angiotensina (IECA) e/ou dos bloqueadores do receptor de angiotensina (BRAs). A justificativa para essa prática origina-se da noção de que os IECA/BRAs diminuem a taxa de filtração glomerular (TFG), resultando em um aumento da creatinina sérica e predisposição para NIC.

Os estudos observacionais são conflitantes, com alguns estudos mostrando uma redução de NIC enquanto outros mostraram um aumento. Três estudos randomizados testaram suspensão versus continuação de IECA/BRAs antes do procedimento. No ensaio de Wolak et. al. (94 pacientes), não mostrou diferença geral na mudança na eTFG nos grupos nos quais os IECA/BRAs foram suspensos em comparação com aqueles em que foram mantidos. No entanto, no subgrupo de pacientes com eTFG < 60 mL/min no início do estudo, houve estatisticamente um declínio menor na eTFG no grupo suspenso. No segundo ensaio de Rosenstock e cols. (220 pacientes), em pacientes com eTFG < 60 mL/min, houve uma redução na incidência de NIC quando a terapia com IECA/BRA foi suspensa em comparação quando foi continuada, mas isso não atingiu significância estatística (3,7% [4/107] versus 6,2% [7/113]). Por último, no estudo CAPTAIN (Angiotensin Converting Enzyme Inhibitors and Contrast Induced Nephropathy in Patients Receiving a Cardiac Catheterization) com 208 pacientes, dos pacientes com insuficiência renal moderada, suspensão de IECA / BRAs antes da angiografia coronária reduziram a incidência de NIC (10,9% versus 18,4%; p = 0,16) e resultou em um aumento menor na creatinina sérica média (0,1 ± 0,3 mg / dL versus 0,3 ± 0,5 mg / dL, p = 0,03).

 

PORTANTO:

  • Em pacientes com função renal normal, IECA/BRAs podem ser continuados com segurança durante a angiografia coronária.
  • Em pacientes com disfunção renal (eTFG < 60 mL/min), os dados de estudos randomizados sugerem que suspender os IECA/BRAs antes do procedimento pode levar a um benefício potencial na redução do declínio da eTFG ou na redução do risco de NIC em comparação com a continuação desses medicamentos antes do procedimento e reiniciando alguns dias após o procedimento (quando a LRA foi descartada ou superada). No entanto, a força da evidência é fraca e mais estudos são necessários para testar isso de forma conclusiva.

 

2.3 ANTICOAGULANTES ORAIS (ACO)

 Em geral, é recomendado interromper a terapia anticoagulante oral (ACO: varfarina ou ACO direto) antes do cateterismo cardíaco para minimizar o sangramento (tanto nos locais de acesso quanto os de não acesso) durante e imediatamente após o procedimento (Tabela 1). Além disso, em pacientes que necessitam de ICP, a continuação do ACO pode colocar questões relacionadas à escolha da terapia anticoagulante no momento da ICP.

 


No entanto, a desvantagem de suspender a ACO envolve potenciais complicações isquêmicas durante o tempo em que o medicamento é interrompido e tempo prolongado para retornar a obter um INR otimizado após o reinício (com varfarina). Assim, em pacientes com alto risco de complicações trombóticas (como aqueles com válvulas mecânicas), a ponte com heparina de baixo peso molecular é frequentemente recomendada.

Em um pequeno ensaio randomizado (n = 61 pacientes) comparando varfarina suspensa  ≥ 48 horas versus varfarina contínua (INR: 2,0–3,0) em pacientes que se submeteram a angiografia transfemoral diagnóstica eletiva seguida por compressão manual para hemostasia, não houve diferença na taxa de hematomas, complicações vasculares ou tempo de permanência entre os 2 grupos.Em uma metanálise de 8 estudos de angiografia (7 observacionais e 1 ECR), em que 81% dos pacientes tiveram ICP e 35% tiveram acesso transradial, ACO contínuo foi associada a eventos cardíacos e cerebrovasculares adversos maiores e complicações hemorrágicas semelhantes a ACO suspenso. Esta meta-análise incluiu estudos heterogêneos que incluíram acesso femoral e transradial e terapia de ponte com heparina. ACO contínuo também foi associado a menor sangramento em comparação com ACO com ponte.Em um estudo observacional de pacientes submetidos a angiografia coronária ou intervenção em ACO continuo com varfarina, o acesso radial foi associado a menor sangramento e complicações do acesso vascular em comparação com o acesso femoral em o grupo que foi submetido a PCI.

 

PORTANTO:

  • Em pacientes com risco moderado ou alto de complicações trombóticas (como aqueles com válvulas mecânicas ou aqueles com fibrilação atrial e histórico de acidente vascular cerebral), a manutenção da ACO é razoável, especialmente quando a angiografia coronária diagnóstica ou ICP pode ser realizada por via radial.
  • A decisão de continuar ACO deve ser tomada com base no risco trombótico da indicação de ACO, o risco de sangramento associado à ICP (por exemplo, oclusão total crônica, necessidade de aterectomia rotacional), urgência do procedimento e perícia na técnica radial. Em pacientes nos quais o ACO é continuado e o local de acesso precisa ser trocado, deve-se considerar o uso de transradial contralateral ou o uso de acesso ulnar antes de considerar o acesso transfemoral. Para situações em que o risco de sangramento é alto e o risco isquêmico de suspender a ACO é baixo, a Tabela 1 descreve o momento ideal para suspender a ACO.

 

3. ALERGIA A FRUTOS DO MAR

Pacientes com alergia a frutos do mar são considerados de alto risco de ter uma reação alérgica a meios de contraste iodados e muitas vezes são pré-tratados para prevenir reações alérgicas. Qualquer tipo de alergia a medicamentos, alimentos e até mesmo atopia deve ser claramente documentado e o tipo de reação anotada quando disponível. Além disso, a exposição prévia ao contraste com uma reação adversa é considerada um aviso precoce para um novo episódio.

Estudos na década de 1970 mostraram um maior risco de reação a agentes de radiocontraste em pacientes que tiveram reações alérgicas anteriores a crustáceos ou frutos do mar. Como os crustáceos /frutos do mar têm um conteúdo mais alto de iodo, isso foi interpretado como decorrente de alergia ao iodo.

O iodo está presente em todo o corpo (por exemplo, hormônios da tireoide, aminoácidos) e, portanto, não pode ser um alérgeno. O principal alérgeno em moluscos é a tropomiosina e não o iodo. As reações alérgicas são mediadas por IgE (imunoglobulina E) à tropomiosina e, devido à memória imunológica, cada exposição subsequente pode levar a uma reação anafilática mais grave. O risco de reação à reexposição para tal mecanismo imunomediado, portanto, se aproxima de 100%. No entanto, a reação aos agentes de radiocontraste é uma reação anafilactóide e, portanto, não mediada por imunidade (IgE). Acredita-se que a causa da reação anafilactóide aos agentes de radiocontraste seja a hiperosmolaridade do contraste em comparação com o sangue. Se não for um mecanismo imunomediado, o risco com a reexposição é bem menor que 100% e geralmente é de aproximadamente 7% com meios de contraste de baixa osmolaridade. Em estudos anteriores relacionando reações alérgicas a crustáceos com reações a agentes de radiocontraste, uma incidência semelhante de alergias a outras substâncias, como o leite, foi observada em pacientes que tiveram uma reação a agentes de radiocontraste. Assim, a atopia geral (incluindo asma) é provavelmente um fator de risco para reação a agentes de radiocontraste.

 

PORTANTO:

  • Pacientes com história de alergia a frutos do mar isoladamente não precisam de pré-medicação antes de serem submetidos ao cateterismo cardíaco.
  • Em pacientes com uma reação aguda moderada ou grave prévia aos meios de contraste, a profilaxia pré-medicação para uma reação alérgica é recomendada.

 

4. PRÉ-MEDICAÇÃO COM CORTICOIDES: ORAL OU EV.


Em pacientes com antecedente de reação ao meio de contraste (alergia a meio de contraste), a pré-medicação profilática com corticóides (prednisona 50 mg por via oral 13 horas, 7 horas e 1 hora antes do procedimento) e um anti-histamínico são comumente recomendados. No entanto, esquemas com corticoides EV (regime acelerado) são usados ​​como uma alternativa quando a profilaxia VO é impraticável (por exemplo, em pacientes que precisam de procedimentos de urgência/emergência).

 Os regimes acelerados de corticoides intravenosos podem reduzir potencialmente os eventos adversos relacionados com profilaxia VO prolongada (tempo de internação hospitalar significativamente mais longo, atraso no diagnóstico, mais infecções adquiridas em hospitais e custos significativamente maiores relacionados a cuidados de saúde).

 Em um ensaio de 6.763 pacientes aleatoriamente designados para um regime VO de corticosteroide de 2 doses (32 mg de metilprednisolona, 12 horas e 2 horas antes do procedimento) versus um regime de corticosteroide de 1 dose (32 mg de metilprednisolona 2 horas antes do procedimento) versus placebo correspondente, o regime de 2 doses, mas não o regime de 1 dose, reduziu significativamente todos os tipos de reações aos meios de contraste iônicos em pacientes de risco médio. No entanto, meio de contraste iônico de alta osmolaridade foi usado neste ensaio, e as taxas de reações foram comparáveis ​​às taxas de pacientes que não foram pré-medicados, mas receberam meio de contraste não iônico. Em um segundo ensaio randomizado de pacientes que receberam meio de contraste não iônico (N = 1155), o regime de corticosteroide oral de 2 doses foi superior ao placebo na redução das reações gerais. Pacientes com histórico de reações graves aos meios de contraste foram excluídos de ambos os ensaios. Nenhum estudo randomizado comparou a profilaxia esteroide oral com a profilaxia intravenosa acelerada. Um estudo observacional mostrou não inferioridade de um regime intravenoso de 5 horas em comparação com o regime de pré-tratamento oral de 13 horas em pacientes com reação prévia a meios de contraste submetidos a tomografia computadorizada com meio de contraste de baixa osmolaridade.

 

PORTANTO:

  • O regime de pré-tratamento oral (prednisona 50 mg por via oral 13 horas, 7 horas e 1 hora antes do procedimento ou metilprednisolona 32 mg por via oral 12 horas e 2 horas antes do procedimento) são preferidos a um regime intravenoso acelerado em pacientes com reação prévia ao meio de contraste. Digno de nota, os únicos 2 ensaios clínicos randomizados excluíram pacientes com reação prévia grave ao meio de contraste. A proteção contra a reação, mesmo com corticosteroide oral prolongado, não é total, e as reações podem ocorrer em uma taxa de aproximadamente 2,1%.
  • A eficácia da profilaxia intravenosa acelerada não foi estabelecida em um ensaio randomizado, mas há evidências de baixo nível para a não inferioridade de um esquema intravenoso de 5 horas (metilprednisolona intravenosa 40 mg ou hidrocortisona 200 mg 5 horas e 1 hora antes do procedimento) comparado com o regime oral de 13 horas como foi demonstrado em um estudo observacional.
  • Muitos centros de cateterismo administram bloqueadores H1 (por exemplo, Benadryl) ou H2 (por exemplo, famotidina) junto com esteroides. No entanto, existem dados mínimos para apoiar ou refutar esta prática.

 

PRÁTICAS INTRA-PROCEDIMENTO DE CATETERISMO


1. SEDAÇÃO E ANALGESIA

A maioria dos procedimentos de cateterismo são realizados com sedação consciente, reservando a anestesia geral apenas para os pacientes mais complexos e gravemente enfermos. A melhor prática inclui avaliação para receber sedação moderada (classe da American Society of Anesthesiologists e escala de  Mallampati). As considerações baseadas em evidências são descritas abaixo.

 

1.1. COMBINAÇÃO DE BENZODIAZEPÍNICOS E OPIOIDES

As técnicas de sedação ideais fornecem um nível aceitável de conforto do paciente e ansiólise com depressão respiratória mínima. O midazolam é o benzodiazepínico de ação curta mais usado para sedação porque tem um perfil farmacocinético favorável com meia-vida de aproximadamente 2 horas em adultos não idosos. Uma combinação de benzodiazepínicos de ação curta (como midazolam) e opioides (como fentanil) é comumente usada. A justificativa é usar uma combinação de um sedativo/ansiolítico com um analgésico. No entanto, há preocupação com relação ao uso empírico de opiáceos durante procedimentos médicos, devido à potencial dependência e uso indevido de opioides. Existe uma variabilidade considerável na prática clínica em relação à sedação. Em uma pesquisa, qualquer sedação durante o cateterismo cardíaco foi usada por 92% dos cardiologistas na América do Norte, mas apenas por 38% em outros países.

A necessidade de opiáceos para todos os procedimentos no laboratório de cateterismo cardíaco não é clara. Em um estudo randomizado (n = 90) de pacientes submetidos a angiografia coronária diagnóstica, não houve diferença nos escores de sedação, ansiólise e satisfação do paciente e do cardiologista entre midazolam + fentanil versus midazolam sozinho. Outros estudos também não mostraram diferença na pontuação de dor entre um regime com ou sem opiáceos. No ensaio randomizado PACIFY (agregação plaquetária após inibição com ticagrelor e fentanil) de pacientes submetidos a angiografia coronária com ou sem ICP, a dor máxima autorrelatada intraprocedimento média foi de 1,5 (na escala numérica de 0 a 10) com fentanil versus 2,3 sem fentanil (p = 0,14). No entanto, o grau de inibição plaquetária após uma dose de ataque de ticagrelor e as concentrações de ticagrelor foram menores no braço com fentanil em comparação com o braço sem fentanil devido ao esvaziamento gástrico retardado e absorção prejudicada de inibidores plaquetários orais.

Em relação aos ansiolíticos, a meia-vida dos sedativos típicos é prolongada em pacientes idosos e muito jovens. O risco de comprometimento respiratório é mais pronunciado em pacientes idosos, que também são mais suscetíveis ao delírio pós-procedimento. Atualmente, não há estudos de alto nível confirmando que o midazolam está associado a eventos adversos em pacientes idosos; no entanto, artigos de consenso recomendam que os benzodiazepínicos devem ser minimizados ou eliminados em pacientes idosos. Um estudo multicêntrico randomizado prospectivo está em andamento para examinar o impacto do midazolam como um fator contribuinte no delírio pós-procedimento.

 

PORTANTO:

  • Na maioria dos pacientes, os opiáceos podem não ser necessários para atingir a sedação ideal, e o risco de dependência de opioides é uma preocupação.
  • Existe outra preocupação de que a absorção de agentes administrados por via oral durante o procedimento de cateterismo pode ser reduzida pelos opioides. Por esse motivo, o uso de opiáceos em pacientes não idosos pode ser individualizado com base na complexidade do procedimento e na resposta à sedação inicial apenas com um agente ansiolítico. No entanto, em pacientes idosos, os benzodiazepínicos devem ser usados ​​com cautela para evitar o delírio e, portanto, podem ser considerados regimes à base de opioides sem um benzodiazepínico.

 

 2. ACESSO VASCULAR

 Desde aproximadamente 2006, a adoção do acesso radial para angiografia coronária e ICP nos Estados Unidos tem crescido constantemente e, em muitos lugares, tornou-se o método de escolha. ECRs e estudos observacionais mostraram que o acesso radial reduz o sangramento importante e complicações vasculares, e em pacientes de alto risco, como aqueles com infarto do miocárdio com elevação do segmento ST, pode reduzir a mortalidade. Apesar desse corpo de dados, o uso da abordagem radial fica para trás em alguns subgrupos. Algumas considerações específicas são apresentadas nas seções a seguir.

 

2.1 ACESSO RADIAL EM PACIENTES COM MASTECTOMIA ANTERIOR

 O acesso transradial é evitado rotineiramente em pacientes com mastectomia ipsilateral.

Pacientes que foram submetidas a mastectomia radical são frequentemente aconselhadas a evitar qualquer acesso arterial ou venoso, incluindo flebotomia, no lado ipsilateral devido ao risco teórico de infecção e subsequente linfedema.

Yadav e cols. analisaram retrospectivamente 129 pacientes com história de câncer de mama que foram submetidas a cateterismo cardíaco. 42 procedimentos foram realizados com acesso da artéria radial do mesmo lado do câncer de mama, e 7 dessas pacientes também foram submetidas a cateterismo cardíaco direito com acesso ipsilateral da veia do antebraço. Aos 4 anos de acompanhamento, não houve casos de infecção de partes moles pós-procedimento ou linfedema do lado do acesso.

 

PORTANTO:

  • Embora seja geralmente recomendado evitar o acesso arterial ou venoso ipsilateral devido à preocupação com infecção do local de acesso e linfedema subsequente, o risco de infecção com acesso transradial é excessivamente pequeno, e estudos observacionais sugerem a segurança de tal abordagem. No entanto, é importante que a abordagem radial seja centrada no paciente e a decisão de obter acesso radial ipsilateral deve ser discutida com o paciente.

 

2.2 ACESSO RADIAL EM PACIENTES COM CIRCULAÇÃO COLATERAL ANORMAL DA MÃO COLATERAL

O acesso radial é evitado em pessoas com circulação colateral anormal na mão.

 Os testes de Allen ou Barbeau foram projetados para avaliar a presença de um arco palmar intacto conectando a artéria radial com ramos da artéria ulnar. O teste de Barbeau usa o padrão de onda oximétrica de pulso do polegar após a oclusão manual da artéria radial ipsilateral e categoriza os resultados em 1 de 4 categorias: A, B, C ou D, com as categorias C e D sugerindo a falta de um arco palmar. O acesso à artéria radial em pacientes com resultados anormais do teste de Allen ou Barbeau é evitado devido ao risco teórico de isquemia da mão se a artéria radial ocluir.

 Valgimigli e cols.45 objetivaram avaliar o risco de acesso radial em 203 pacientes com resultados de teste de Allen normais, intermediários e anormais. No início do estudo, os resultados do teste de Barbeau eram consistentes com o teste de Allen: os pacientes com resultados anormais do teste de Allen tinham mais frequentemente um teste do tipo C ou D de Barbeau. Em 1 ano de acompanhamento, 3 pacientes tiveram oclusão persistente da artéria radial; não houve diferença na incidência de isquemia da mão, força de preensão manual ou desconforto nas 3 categorias de teste de Allen. Além disso, o teste de Barbeau evoluiu de forma que uma proporção significativa de pacientes com resultados basais do tipo C ou D desenvolveram resultados do tipo A ou B em 1 ano.

 

PORTANTO:

  • Estudos observacionais sugerem que os testes de circulação colateral são dinâmicos e não predizem isquemia da mão. Portanto, eles não são úteis para determinar a segurança do acesso radial.

 

2.3 ACESSO RADIAL EM PACIENTES QUE PRECISAM DE CIRURGIA DE REVASCULARIZAÇÃO DO MIOCÁRDIO OU DIÁLISE

O acesso transradial é cada vez mais usado para diagnósticos coronários e procedimentos intervencionistas. No entanto, existe a preocupação de que o acesso transradial possa comprometer o uso da artéria radial para fístula arteriovenosa ou como ponte para cirurgia de revascularização do miocárdio em pacientes que precisam.

O acesso transradial pode causar lesão no local da punção e pode afetar potencialmente a permeabilidade do enxerto a longo prazo ou a adequação para fístula arteriovenosa.

Lesões agudas da artéria radial são comuns após procedimentos transradiais. Rupturas da íntima (67,1%) e dissecções mediais (35,6%) foram descritas em estudos que utilizaram tomografia de coerência óptica. Essas alterações foram mais comuns no segmento distal do que no segmento proximal e mais comuns após a repetição de procedimentos. Outros mostraram um aumento significativo no volume da camada íntima da artéria radial e uma diminuição no volume do lúmen 9 meses após ICP transradial em comparação com a linha de base. Heiss e cols.48 mostraram que o cateterismo transradial não leva apenas à disfunção da artéria radial (conforme medido por dilatação mediada por fluxo) mas também a artéria braquial a montante, que era mais grave e sustentada em fumantes e com número crescente de cateteres. Além disso, 1 estudo mostrou taxas reduzidas de permeabilidade do enxerto sem estenose em pacientes que receberam enxerto de artéria radial com acesso transradial prévio do que sem (77% versus 98%; p = 0,017).

 

PORTANTO:

  • As evidências sugerem altas taxas de alterações agudas e crônicas na artéria radial após o acesso transradial e redução da patencia do enxerto quando usado como ponte.
  • As taxas de oclusão e lesão da artéria radial podem ser minimizadas seguindo boas técnicas de acesso transradial, incluindo o uso de bainhas menores, bainhas hidrofílicas, minimizando as trocas de cateter e usando técnicas de hemostasia patente.
  • É preferível evitar a artéria radial como ponte de revascularização se ela tiver sido usada anteriormente para acesso transradial. Em situações em que as opções de ponte são limitadas, é preferível evitar o uso da artéria radial por pelo menos 3 meses após o acesso transradial e avaliar as características de permeabilidade e fluxo com Doppler antes de usar como ponte.
  • Em pacientes para os quais a cirurgia de revascularização do miocárdio está planejada, o acesso alternativo (por exemplo, artéria radial dominante, artéria radial distal, artéria ulnar ou artéria femoral) deve ser considerado.
  • Finalmente, em pacientes que precisam de diálise, o acesso alternativo (artéria radial distal ou artéria femoral) deve ser considerado.

 

2.4 TÉCNICA DE ACESSO FEMORAL SEGURO

 Em comparação com o acesso transradial, o acesso transfemoral está associado a maior risco de sangramento e complicações vasculares. Como tal, uma estratégia de acesso femoral seguro é preconizada. Isso inclui a revisão de angiogramas femorais anteriores, quando disponíveis, para identificar o local ideal para punção femoral e o uso da punção guiada por ultrassonografia, além de pontos de referência fluoroscópicos.

 O acesso transfemoral padrão inclui o uso de marcos fluoroscópicos para localizar a cabeça do fêmur. No entanto, o acesso guiado por ultrassom é recomendado como parte da técnica de acesso femoral segura.

 Embora o ponto de referência fluoroscópico seja útil para evitar uma punção da artéria femoral alta, a variabilidade na relação da bifurcação femoral torna esse ponto de referência impreciso. A orientação por ultrassom permite a visualização da bifurcação da artéria femoral e de qualquer veia femoral subjacente e permite a punção de parede única sob visualização direta e, como tal, tem o potencial de reduzir o risco de complicações vasculares e hemorrágicas.

Uma meta-análise de 7 RCTs que envolveu 3.180 pacientes aleatoriamente designados para acesso padrão versus acesso femoral guiado por ultrassom mostrou uma maior taxa de sucesso na primeira tentativa (82,0% versus 58,7%; p <0,0001), tempo de acesso reduzido, número de tentativas, complicações vasculares (1,3% versus 3,0%; p = 0,02), hematoma no local de acesso (1,2% versus 3,3%; p = 0,01) e punção venosa (3,6% versus 12,1%; p <0,00001), mas houve diferenças não significativas em sangramento maior (0,7% versus 1,4%; p = 0,19) com acesso femoral guiado por ultrassom em comparação com o acesso padrão (Figura 2).

 

PORTANTO:

  • A evidência cumulativa de estudos randomizados mostra uma redução significativa nas complicações vasculares com o acesso femoral guiado por ultrassom em comparação com o acesso padrão. A orientação por ultrassom também é útil para evitar áreas onde a artéria femoral comum está estenosada ou contém cálcio em sua parede anterior. Evitar um segmento calcificado facilita o fechamento com um dispositivo de fechamento vascular. O acesso femoral guiado por ultrassom deve ser usado como parte da técnica de acesso femoral segura para reduzir o risco de complicações.

2.5 AGULHA DE CALIBRE 18 PADRÃO VERSUS AGULHA DE MICROPUNÇÃO PARA ACESSO FEMORAL

Uma agulha padrão de calibre 18 é usada para acesso femoral. No entanto, uma agulha de micropunção é recomendada como parte da técnica de acesso femoral segura.

A agulha de micropunção é uma agulha de calibre 21 e a arteriotomia com esta agulha é 56% menor do que com agulha de calibre 18 e, como tal, pode reduzir potencialmente o risco de complicações vasculares e hemorrágicas.

Apenas 1 RCT, o ensaio FEMORIS (Femoral Micropuncture or Routine Introducer Study) foi concluído até o momento. Este é um estudo de centro único que designou aleatoriamente 402 pacientes (42% ICP) a uma agulha padrão de calibre 18 versus agulha de micropunção calibre 21. O estudo foi interrompido prematuramente devido à retirada de financiamento dos patrocinadores. O desfecho primário de complicações de acesso femoral composto foi menor com a agulha de micropunção do que com a agulha padrão (9,4% versus 15,5%; p = 0,10), mas não atingiu significância estatística. Em subgrupos pré-especificados, como aqueles não submetidos a ICP (3,3% versus 12,4%; p = 0,02), mulheres (5,8% versus 17,4%; p = 0,05), casos eletivos de síndrome coronariana não aguda (8,6% versus 18,5%; p = 0,03 ), e aqueles com um cateter de tamanho final de bainha ≤6F (6,4% versus 15,1%; p = 0,02), a agulha de micropunção calibre 21 foi associada a taxas mais baixas do ponto final primário.

 

PORTANTO:

  • A evidência da superioridade do acesso por micropunção nº 21 sobre o acesso padrão de calibre nº 18 permanece inconclusiva porque o único estudo randomizado conduzido até o momento foi encerrado prematuramente. Apesar disso, a técnica de acesso por micropunção oferece vantagens teóricas; os resultados do estudo randomizado apontam para complicações de acesso femoral numericamente inferiores e podem ser considerados como parte da estratégia de acesso femoral seguro.

 

3. ALERGIAS AO METAL DOS STENTS

A alergia ao níquel é uma causa comum de dermatite alérgica de contato, frequentemente associada a brincos e outras joias para piercings. As bulas exigidas pela Food and Drug Administration dos EUA para stents coronários declaram especificamente que seu uso é contraindicado em pacientes alérgicos a qualquer um dos componentes do dispositivo e, especificamente, para níquel ou aço inoxidável cirúrgico 316.

Stents e outros dispositivos contendo níquel devem ser usados ​​com cautela em pacientes com histórico de alergia ao níquel.

Pacientes com alergia ao níquel desenvolveram hiperplasia intimal e reestenose aumentadas com stents convencionais, mas não houve relatos de reações eosinofílicas. No entanto, outros estudos não encontraram relação entre alergia ao níquel e reestenose, especialmente na era dos stents farmacológicos. É importante notar que todos os stents disponíveis comercialmente contêm níquel, embora o conteúdo de níquel entre os diferentes stents seja variável.

 

PORTANTO:

  • As evidências para associar a alergia ao níquel e pior resultado com os stents são fracas. O teste de alergia ao níquel não é recomendado. Além disso, todos os stents disponíveis comercialmente contêm níquel, embora em pequenas quantidades. Pode ser prudente considerar o implante de um stent com polímero durável de droga em tais pacientes, porque o polímero irá isolar a superfície metálica do contato com o tecido.

PRÁTICAS PÓS PROCEDIMENTO

RESSONÂNCIA MAGNÉTICA EM PACIENTES COM UM STENT CORONÁRIO RECÉM-IMPLANTADO

Evitar o uso de exames de ressonância magnética (RM) não emergenciais nas 4 a 6 semanas após o implante do stent.

Implantes médicos com propriedades ferromagnéticas, incluindo stents coronários precoces, representam um risco potencial dentro do campo magnético ativo durante a ressonância magnética diagnóstica. Esses riscos propostos incluem a migração do dispositivo se exposto a um campo magnético antes da reendotelização e aquecimento do stent e dano ao tecido dentro do forte campo magnético necessário para a imagem. Tais preocupações resultaram em algumas instituições em práticas instituindo a proibição da ressonância magnética dentro de 2 a 6 semanas após implantação de stent coronário e requisitos para avaliação de compatibilidade de dispositivo de ressonância magnética em pacientes com stents antes da realização de ressonância magnética, resultando em atrasos potenciais significativos nos testes de diagnóstico.

A ressonância magnética afeta materiais ferromagnéticos por meio da atração, criando potencial para um efeito de projétil ou o potencial de se mover no espaço. Além disso, os materiais ferromagnéticos podem atuar como antenas para a energia de radiofrequência pulsada usada durante a ressonância magnética e o calor, criando o potencial para dano térmico local e lesão vascular ou ruptura dos revestimentos de stent (revestimentos poliméricos ou componentes de drogas de stents). Os dispositivos cardíacos mais usados ​​atualmente, incluindo todos os stents coronários disponíveis comercialmente, exibem propriedades ferromagnéticas mínimas ou ausentes. Os testes in vivo e ex vivo demonstraram segurança precoce e intermediária em relação à falta de aquecimento ou migração com designs e materiais de stent contemporâneos, incluindo no período pós-implante inicial. As informações de rotulagem de ressonância magnética estão disponíveis para todos os stents coronários contemporâneos comercialmente disponíveis em "instruções de uso" e outras embalagens e materiais do paciente, e o banco de dados atualizado para segurança de ressonância magnética, embora a revisão obrigatória desses materiais seja desnecessária antes da realização da ressonância magnética. Os dados de segurança são mais robustos para designs de stent modernos sujeitos a campos magnéticos ≤3 Tesla, com taxa de absorção específica média de corpo inteiro de 2 W/kg e um limite sugerido de sequência de 15 min/pulso para ressonância magnética de pacientes com stents coronários ou válvulas cardíacas protéticas. Artefato local pode ocorrer na presença de stents metálico de artéria coronária, potencialmente limitando a avaliação da patência coronariana por técnicas de ressonância magnética cardíaca e deve ser uma consideração na seleção de testes diagnósticos.

 

PORTANTO:

  • O consenso atual afirma que o implante de stent coronário recente não é uma contraindicação para a ressonância magnética.
  • Não há relatórios publicados de eventos adversos associados à realização de ressonância magnética em um paciente após o implante de stent coronário dispo

[1] Bangalore S, Barsness GW, Dangas GD, Kern MJ, Rao SV, Shore-Lesserson L, Tamis-Holland JE. Evidence-Based Practices in the Cardiac Catheterization Laboratory: A Scientific Statement From the American Heart Association. Circulation. 2021 Aug 3;144(5):e107-e119. doi: 10.1161/CIR.0000000000000996. Epub 2021 Jun 30. PMID: 34187171.

[2] Geenen, R. W., Kingma, H. J., & van der Molen, A. J. (2013). Contrast-induced nephropathy: pharmacology, pathophysiology and prevention. Insights into imaging, 4(6), 811–820. https://doi.org/10.1007/s13244-013-0291-3

[3] Alvarez, CA, Halm, EA, Pugh, MJ, et al. Lactic acidosis incidence with metformin in patients with type 2 diabetes and chronic kidney disease: A retrospective nested case-control study. Endocrinol Diab Metab. 2021; 4:e00170. https://doi.org/10.1002/edm2.170

[4] https://emcrit.org/ibcc/metformin/

[6] Kalantar-Zadeh K, Uppot RN, Lewandrowski KB. Case records of the Massachusetts General Hospital. Case 23-2013. A 54-year-old woman with abdominal pain, vomiting, and confusion. N Engl J Med. 2013 Jul 25;369(4):374-82. doi: 10.1056/NEJMcpc1208154. Epub 2013 Jul 10. PMID: 23841704.

[7] Krowl L, Al-Khalisy H, Kaul P. Metformin-Induced Lactic Acidosis (MILA): Review of current diagnostic paradigm. Am J Emerg Med. 2018 May;36(5):908.e3-908.e5. doi: 10.1016/j.ajem.2018.01.097. Epub 2018 Feb 15. PMID: 29456175.

[8] Umeda, T., Minami, T., Bartolomei, K., & Summerhill, E. (2018). Metformin-Associated Lactic Acidosis: A Case Report. Drug safety - case reports, 5(1), 8. https://doi.org/10.1007/s40800-018-0076-1