domingo, 3 de novembro de 2019
domingo, 27 de outubro de 2019
HIPOTERMIA TERAPÊUTICA (HT). QUAL O ALVO?
Dr. Alejandro Enrique Barba Rodas. Médico Intensivista. Coordenador da Unidade Coronariana da Santa Casa de São Jose dos Campos.
HIPOTERMIA
é definida como uma temperatura corporal (central) inferior a cerca de 35 ºC
(95 ºF). Classifica-se em: Leve (temperatura central de 32°C a 35°C ou 90°F a
95°F), Moderada (temperatura central de 28°C a 32°C ou 82°F a 90°F) e Severa (temperatura central abaixo de 28ºC ou 82 ºF)[1].
A HIPOTERMIA
TERAPÊUTICA COM META DE TEMPERATURA CENTRAL DE 32°C A 36°C é usada como
forma de tratamento para prevenir lesão secundaria encefálica pós PCR ou pós
TCE/AVC.
Nos
casos de Pós PCR (RCE) segue as seguintes Diretrizes:
1.
ILCOR 2015[2]:
1.1
PCR EXTRAHOSPITALAR (PCR-EH) COM RITMO CHOCÁVEL (FV ou TVSP): Apesar da
evidência de baixa qualidade, estudos mostram benefício. Nestes estudos,
hipotermia leve, comparada com normotermia, mostraram bom resultado neurológico
em 6 meses e sobrevida à alta hospitalar.
Recomenda,
HT leve para adultos com PCR-EH com um ritmo inicial chocável que permanece sem
resposta após RCE (recomendação forte, baixa qualidade evidência).
1.2
PCR EXTRAHOSPITALAR (PCR-EH) COM RITMO NÃO CHOCAVEL (ASSISTOLIA/AESP): Não
se encontraram trials comparando HT leve com normotermia. Na avaliação da
sobrevida as evidências foram muito fracas.
Sugere,
HT leve para adultos com PCR-EH com um ritmo inicial não chocável que não
responde após RCE (recomendação fraca, qualidade muito baixa evidência).
1.3
PCR INTRAHOSPITALAR (PCR-IH) EM QUALQUER RITMO: Não se encontraram trials
comparando HT leve com normotermia. Na avaliação da sobrevida as evidências
foram muito fracas.
Sugere,
HT leve para adultos com PCR-IH com qualquer ritmo inicial que não responde
após RCE (recomendação fraca, qualidade muito baixa evidência).
2.
AHA 2015[3]:
Recomenda,
HT com alvo de 32°C a 36°C de temperatura central, para todos os tipos de PCR,
por pelo menos 24 horas.
Nos
últimos 15 anos, HT tornou-se uma ferramenta importante no atendimento em
pacientes críticos com lesão cerebral aguda decorrente de encefalopatia
pós-anóxica / hipóxica causada por eventos catastróficos como asfixia neonatal
ou parada cardiorrespiratória (PCR). Inicialmente as recomendações orientavam
como alvo temperatura central de 32 a 32ºC.
Em
2000, THE HYPOTHERMIA AFTER CARDIAC ARREST STUDY GROUP (HACA Study Group) publicou
no NEJM, estudo em que relataram que a HT (meta de 32ºC a 34ºC) após uma PCR
testemunhada em FV, melhorou o desfecho neurológico. No entanto, vários
pacientes do grupo controle desenvolveram febre e, portanto, não estava claro
se os benefícios relatados eram de hipotermia ou prevenção da febre.
Em
2013, publicou no NEJM o estudo de Nielsen e colaboradores (TTM Trial)
relatando que os resultados em pacientes em RCE pós RCP-EH com HT usando alvo
de 33ºC não foram melhores do que em pacientes resfriados a 36ºC. Apesar das
críticas feitas ao estudo com apontamento de vieses importantes, muitos centros
aceitaram os resultados e passaram a adotar a temperatura alvo de 36ºC[4].
Em
2015, Frydland M. e colaboradores publica na revista RESUSCITATION, uma
análise pos-hoc (n = 178) do TTM Trial, num subgrupo de pacientes com ritmo não
chocável, não encontrando benefício com 33ºC vs. 36ºC[5].
As
Diretrizes da AHA e do ILCOR de 2015 (atualmente em vigor) não tomaram partido
no debate e como visto recomendaram alvo flexível entre 32°C a 36°C de
temperatura central, para todos os tipos de PCR, por pelo menos 24 horas.
Em
2016 publica no JAMA o estudo de Chan e colaboradores em pacientes com PCR-IH[6].
Esses autores analisaram retrospectivamente dados do GWTG-Resuscitation[7]
e encontraram 26,183 pacientes ressuscitados com sucesso após PCR-IH, dos quais
6% foram tratados com HT. Dados desses 6% foram pareados com uma seleção de pacientes
não submetidos a HT. A temperatura média mais baixa alcançada foi 33,1ºC em
pacientes tratados com hipotermia e 36,3C em pacientes não tratados com
hipotermia. Quando analisado dessa maneira, a HT foi associada à menor
sobrevida e resultados neurológicos menos favoráveis. Muitos comentários e
críticas foram publicados, apontando erros nos desenhos e resultados. Apesar
disso, vários centros passaram a adotar como temperatura alvo 36ºC,
contrariando as Diretrizes da AHA/ILCOR.
Em
2017, publica na revista RESUSCITATION o estudo retrospectivo de Bray JE e
colaboradores, analisando dados de HT em pacientes pós PCE-EH com ritmo
chocável (FV)[8].
Os autores relatam que desde 2013 mudaram o alvo de temperatura de 33ºC para
36ºC. Referem que na análise de dados, encontrou-se que houve dificuldades
significativas em manter uma temperatura alvo de 36ºC, maior incidência de
febre e uma clara tendência à piora do resultado neurológico após a mudança de
alvo.
Mais
recentemente, em 02 de outubro de 2019, publicou no NEJM, o HYPERION TRIAL,
estudo de J.-B. Lascarrou e colaboradores, comparando hipotermia terapêutica
com alvo de 33°C nas primeiras 24 horas com normotermia direcionada (37°C) em
pacientes em coma admitidos na unidade de terapia intensiva (UTI) após RCE pós
PCR-EH com ritmo não chocável. De janeiro de 2014 a janeiro de 2018, 584
pacientes de 25 UTIs foram randomizados e 581 foram incluídos na análise (3
pacientes retiraram consentimento). Não houve diferença significativa
mortalidade aos 90 dias e nos efeitos adversos entre o grupo hipotermia e o
grupo normotermia. Entretanto houve maior porcentagem de pacientes que
sobreviveram com um resultado neurológico favorável no dia 90 no grupo de HT[9].
Entretanto houve diferenças entre o tratamento da intervenção e os grupos
controle, bem como um número significativo de pacientes que desenvolveram febre
no grupo controle, sendo necessárias mais evidências para confirmar os achados.
CONCLUSÃO:
Destaca-se
que ainda inexiste evidência de alta qualidade que possa estabelecer alvos
claros de temperatura central para a realização de Hipotermia Terapêutica em
pacientes pós PCR. Entretanto, enquanto novos estudos são realizados e
publicados, recomenda-se seguir as diretrizes da AHA ou do ILCOR.
[1]https://www.medicinenet.com/hypothermia_extended_exposure_to_cold/article.htm#what_is_hypothermia
[2]
Clifton W. Callaway, et.al., 2015 International Consensus on Cardiopulmonary
Resuscitation and Emergency Cardiovascular Care Science With Treatment
Recommendations. Part 4: Advanced Life Support. Circulation. 2015;132[suppl
1]:S84-S145. DOI: 10.1161/CIR.0000000000000273
[3]
Clifton W. Callaway, et.al., 2015 American Heart Association Guidelines Update
for Cardiopulmonary Resuscitation and Emergency Cardiovascular Care. Part 8:
Post–Cardiac Arrest Care. Circulation. 2015;132[suppl 1]:S465–S482. DOI:
10.1161/CIR.0000000000000262.
[4]
Niklas Nielsen, M.D., et.al., Targeted Temperature Management at 33°C versus
36°C after Cardiac Arrest. NEJM 369;23 nejm.org december 5, 2013.
[5]
Frydland M., et.al., Target temperature management of 33°C and 36°C in patients
with out-of-hospital cardiac arrest with initial non-shockable rhythm - a TTM
sub-study. Resuscitation. 2015 Apr;89:142-8. doi:
10.1016/j.resuscitation.2014.12.033. Epub 2015 Jan 25.
[6]
Chan PS, Berg RA, Tang Y, Curtis LH, Spertus JA; American Heart Association’s
Get With the Guidelines–Resuscitation Investigators. Association between
therapeutic hypothermia and survival after inhospital cardiac arrest. JAMA.
2016;316:1375–1382. doi: 10.1001/ jama.2016.14380.
[7]
Cardiopulmonary resuscitation of adults in the hospital: a report of 14720
cardiac arrests from the National Registry of Cardiopulmonary Resuscitation.
Peberdy MA, Kaye W, Ornato JP, Larkin GL, Nadkarni V, Mancini ME, Berg RA,
Nichol G, Lane-Trultt T Resuscitation. 2003 Sep; 58(3):297-308.
[8]
Bray JE, Stub D, Bloom JE, Segan L, Mitra B, Smith K, Finn J, Bernard S.
Changing target temperature from 33°C to 36°C in the ICU management of
out-of-hospital cardiac arrest: a before and after study. Resuscitation.
2017;113:39–43. doi: 10.1016/j.resuscitation.2017.01.016.
[9]
Jean-Baptiste Lascarrou, M.D., et.al., Targeted Temperature Management for
Cardiac Arrest with Nonshockable Rhythm. NEJM, October 2, 2019. DOI:
10.1056/NEJMoa1906661
domingo, 20 de outubro de 2019
MONITORIZAÇÃO HEMODINÂMICA E FLUIDO-RESPONSIVIDADE COM USG POINT OF CARE
Alexandre Francisco Silva
Cardiologista
pelo Hospital Federal da Lagoa – Rio de Janeiro - RJ
Intensivista
pelo Hospital Municipal Dr José de Carvalho Florence – S José dos
Campos – SP
Médico
plantonista da Unidade Coronariana da Santa Casa de São José dos
Campos - SP
Médico
diarista do H M Dr José de Carvalho Florence – S J Campos – SP
Médico
plantonista do Hospital Vivalle – Rede D’or – S J Campos – SP
Médico
plantonista do H M Dr Ignácio Proença de Gouveia – São Paulo -
SP
O
cateter de swan-ganz é o padrão ouro para a monitorização
hemodinâmica de pacientes críticos, mas, atualmente, seu uso ficou
restrito devido a inúmeros fatores e foi substituído pela
monitorização hemodinâmica minimamente invasiva, e dentre estas
novas ferramentas temos o ultrassom point of care, usado pelos
intensivistas e emergencistas, que pode nos fornecer dados que
orientem o tratamento dos pacientes nas unidades de terapia intensiva
e emergência. Mostraremos, abaixo, algumas informações que podemos
obter com o usg:
DÉBITO
CARDÍACO:
DC = VS X FC
NL= 4-8 l/min
VS = 3,14 X
(VSVE/2)² X VTIvsve
NL= 50-100
VS = Volume Sistólico
VSVE = Medida da
Via de Saída do VE
VTIvsve = Integral
velocidade-tempo da Via de Saída do VE
IC = Índice Cardíaco (DC por superfície corporal)
FC = Frequência Cardíaca
IC = DC / M²
NL= 2,5-4 l/min/m²
PRESSÃO
SISTÓLICA DE ARTÉRIA PULMONAR:
4 x (Velocidade do
Refluxo Tricúspide)² + PVC
NL= 15-30 mmHg
PRESSÃO DE ARTÉRIA PULMONAR OCLUÍDA OU DE CUNHA:
FÓRMULA DE NAGUEH
PCPW = 1,24 X (E/Ea) + 1,9
Ea= E lateral
MEDIDA INDIRETA DA
PRESSÃO DE ÁTRIO ESQUERDO
NL 4-12mmHg
PVC/ PAD:
NL 0-8 mmHg
RESISTÊNCIA VASCULAR SISTÊMICA:
RVS = { (PAM –
PVC) / DC } X 80
NL= 800-1400
IRVS = {(PAM –
PVC)/ IC} X 80
NL= 1970 - 2390
DO2: Oferta de Oxigênio:
DO2 = CaO2 x DC X
10
NL = 500-650
CaO2 = (PaO2 x
0,0031) + (SaO2/100 x Hb x 1,34)
CaO2 = Conteúdo arterial de O2
NL= 16-22 ml/dl
VO2:
Consumo de Oxigênio:
VO2 = Ca-vO2 x DC X
10
NL= 110-150
Ca-vO2= CaO2 –
CvO2
NL= 4-5,5
CvO2 = (PvO2 x
0,0031) + (SvO2/100 x Hb x 1,34)
CvO2 = Conteúdo venoso de O2
NL = 12-18
TEO2:
Taxa de Extração de Oxigênio:
TeO2= VO2/Do2
NL = 22-33
SVcO2:
Saturação Venosa Central de O2
Quantidade de
Oxigênio que volta ao coração, após a extração do CaO2 para o
metabolismo
Nl= 65-75%
LACTATO:
Marcador de
perfusão tecidual
GAP
CO2/ Delta CO2:
CO2 arterial –
CO2 venoso central
>5 = Sugere
baixo débito cardíaco, hipoperfusão periférica
FLUIDO-RESPONSIVIDADE:
- DC
E PRL (Elevação passiva das pernas) = Calcular o DC em posição recumbente e em posição supina,
com pernas elevadas, durante 1 minuto = Se DC > 10-15% o paciente
é fluido-responsivo
- DELTA VTI E PRL: Mede-se somente o VTI vsve em posição recumbente
e em posição supina com pernas elevadas durante 1 minuto, se o VTI
aumenta > 10-15% temos um paciente fluido responsivo
-
VARIAÇÃO DE CAVA INFERIOR
Em
ventilação espontânea serve para estimar PVC, como vimos antes,
porém não é indicador de fluido-reponsividade
Em
ventilação mecânica, se VC > 8ml/kg ideal ou predito, Peep <10
e sem esforço respiratório próprio, um valor > 12% de variação
de distensibilidade, permite dizer que o paciente é fluido
responsivo, pela fórmula:{(Diâmetro maior – diâmetro menor) /
diâmetro menor } x 100
-PROTOCOLO FALLS E ÁRVORE DE DECISÃO NO CHOQUE
-PROTOCOLO BLUE E DIAGNÓSTICO DE DISPNÉIA
- PAM:
PAM = (PAS + 2PAD)
/ 3
- PP: PRESSÃO DE
PULSO
PAS – PAD
- VPP: VARIAÇÃO DE
PRESSÃO DE PULSO
(PP max – PP min
) / (Média)
> 12% =
Fluido-responsivo = se VC = 8ml/kg ideal ou predito + Peep < 10 +
sem drive próprio
CONCLUSÃO:
Para a monitorização hemodinâmica minimamente invasiva e investigação da resposta a fluidos (pesquisa de hipovolemia ou fluido-responsividade), podemos usar o Ultrassom Point of Care, hemograma, gasometria arterial e venosa central e monitor de pressão arterial invasiva, facilitando a tomada de decisão para a terapia de pacientes criticamente enfermos
REFERÊNCIAS:
- Apostila de
Monitorização Hemodinâmica – AMIB
- Gaspar A et al.
Rev Bras Ter Intensiva 2018;30(3):385-393
- Liechtenstein D.
Expert Rev Respir Med. 2012; 6(2): 155-162.
- Mancuso FJ et al.
Valor dos diferentes métodos da ecocardiografia dopplerno
diagnostico de hipertensão arterial pulmonar. Rev Bras Ecocardiogr.
2008;21(4):16-22
- Nagueh SF,
Middleton KJ, Kopelen HA, Zoghvi WA, Quinones MA. Doppler tissue
imaging: a noninvasive technique for evaluation of left ventricular
relaxation and estimation of filling pressures. J Am Coll Cardiol
1997; 30: 1527-1533.
- Resende E et al.
Rev Bras Ter Intens; 2005; 17(4): 278-281
- Rocha, PN. et al.
Avaliação Hemodinâmica no Paciente Criticamente Enfermo, J Bras
Nefrol 2010;32(2):201-212.
sábado, 12 de outubro de 2019
ESTRATÉGIAS DE
COMUNICAÇÃO PARA COMPARTILHAR PROGNÓSTICO COM PACIENTES ALÉM DAS ESTATÍSTICAS
DE SOBREVIDA[*]
Dr. Alejandro Enrique Barba Rodas. Médico Intensivista. Coordenador da Unidade Coronariana da Santa Casa de São Jose dos Campos.
[*] Comentário baseado no artigo: Paladino
Joana MD., et.al., Communication Strategies for Sharing Prognostic InformationWith
Patients Beyond Survival Statistics. JAMA Published online August 15, 2019.
Para
Leo Pessini, "a veracidade é o fundamento da confiança nas relações
interpessoais". Tendo como fundamento os princípios da Bioética, pode-se
dizer que a comunicação da verdade diagnóstica ao paciente e seus familiares
constitui um benefício para os mesmos (princípio da beneficência), pois
possibilita sua participação ativa no processo de tomada de decisões (princípio
da autonomia). Para que a comunicação da verdade seja moralmente boa, deve-se
prestar atenção a o que, como, quando, quanto, quem
e a quem se deve informar. Claro, exige-se muita prudência. Com frequência,
a mentira e a evasão são os que mais isolam os pacientes atrás de um muro de
palavras ou de silêncio e impede-os de aceitar o benefício terapêutico de
partilhar os medos, as angústias e as preocupações. Não é possível praticar a medicina
paliativa sem um compromisso prévio de abertura e honestidade para com a
verdade dos fatos. Deve-se dar uma resposta honesta aos pacientes que desejam
saber de sua condição de vida, bem como assegurá-los de que aqueles que ficam,
seus familiares, estarão bem, apesar da dor do luto [1].
Comunicar
o prognóstico de uma doença diretamente ao paciente, principalmente quando se
trata de doença grave, incurável ou irreversível e sem tratamento modificador
de doença, é um grande desafio, que requer uma especial habilidade do profissional
médico. Este desafio encontra, por vezes, objeção por parte do próprio médico e
até de familiares que relutam em comunicar essa “má notícia” ao paciente para
evitar-lhe eventual dano decorrente do impacto emocional, o que tem amparo ético
no art. 34 do nosso Código de Ética Médica que veda ao médico[2]:
Art. 34. Deixar de informar
ao paciente o diagnóstico, o prognóstico, os riscos e
os objetivos do tratamento, salvo
quando a comunicação
direta possa lhe
provocar dano, devendo,
nesse caso, fazer a comunicação a
seu representante legal. (grifei).
A
comunicação do diagnóstico e prognóstico ao paciente é a regra e dever do
médico e está prevista em diversos artigos do código de ética médica,
decorrente do dever de informar. Entretanto, a não comunicação é permitida em
casos de pacientes pediátricos, ou em se tratando de adultos, quando as
condições físicas ou psicológicas do paciente não permitam uma correta
compreensão de sua doença ou quando a comunicação direta possa lhe provocar dano,
devendo nesse caso ser o diagnóstico comunicado à família. A não comunicação, trata-se,
portanto, de uma conduta de exceção e exige do médico discernimento e
envolvimento suficientes para saber reconhecer para quais pacientes a informação
deve ser omitida[3].
Nestes casos, a não comunicação para evitar um dano maior tem seu alicerce no princípio
bioético da não-maleficência e no disposto no art. 34 do Código de Ética
Médica.
Se
por um lado, o médico deve refletir bastante não apenas para “decidir comunicar”,
mas para saber “como comunicar” usando as palavras, o momento e o lugar certo;
por outro lado, a omissão em comunicar pode criar ansiedade e distanciar os
pacientes de seu médico, porque quando lucido e orientado, o paciente geralmente
percebe que “algo ruim esta lhe acontecendo e não estão querendo lhe dizer”.
Ademais, atrasar ou evitar a comunicação sobre prognóstico também impede aos
pacientes ter as informações necessárias para manifestar seus desejos e
antecipar sua vontade a respeito dos alcances do tratamento a ser realizado.
A
forma como comunicar o prognóstico com base no “tempo de sobrevida”, que por
vezes é provocado pela pergunta do paciente e/ou do familiar em relação a “quanto
tempo lhe resta de vida” (preocupação sobre o futuro) tem sido desencorajada,
porque o uso da estatística ou previsão de mortalidade para transmitir
prognóstico pode oferecer um foco muito estreito e rígido, baseado numa
expectativa que pode mudar em relação a fatores imprevisíveis como intercorrências
ou progressão de comorbidades.
Inúmeras
habilidades e técnicas podem ajudar os médicos a enriquecer as discussões sobre
o prognóstico, incluindo a avaliação dos desejos do paciente, a fim de recomendar
e formular um plano de atendimento que corresponda às prioridades do mesmo.
Este
artigo desenvolve 3 abordagens para compartilhar prognóstico baseado no
tempo de vida, funcionalidade futura e imprevisibilidade. Essas três
abordagens compartilham princípios comuns.
Primeiro,
as preferências por informações prognósticas variam entre pacientes e
familiares. Ou seja, algumas pessoas podem querer apenas saber quanto tempo lhe
resta, enquanto outros podem apenas querer saber como a vida cotidiana deles
poderia mudar com o tempo. Alguns podem querer saber ambas questões e outros
podem simplesmente não querer saber. Os médicos devem perguntar sobre essas
preferências, pois isso aumenta o controle dos pacientes sobre o recebimento de
informações difíceis, evitando sobrecarregá-los com sofrimento intolerável e aumentando
a probabilidade de que as informações sejam ouvidas e analisadas adequadamente.
Segundo,
a comunicação sobre o prognóstico deve equacionar a realidade médica prevista com
as esperanças e anseios expressos dos pacientes. Os médicos podem se alinhar
aos anseios dos pacientes usando uma linguagem que espelhe a esperança e a
preocupação concomitantes, com as quais os pacientes e as famílias convivem
enfrentando as doenças graves. Por exemplo: “Espero que você possa ver sua
filha se formar na faculdade no próximo ano e trabalharemos para atingir esse
objetivo, mas também me preocupo que isso não seja possível se você ficar mais
doente”.
Terceiro,
essas abordagens não são mutuamente exclusivas. Os pacientes desejam
informações sobre seu prognóstico por diversas razões, inclusive para
“aproveitar ao máximo a vida junto à família” e/ou para organizar a forma como vai
deixar seus bens e pertences após a sua partida. A preocupação com a “família ficar
de certa forma desamparada” quando ele é o sustento principal, é uma
preocupação frequente do paciente e isso pode gerar uma angústia e preocupação
relevantes.
Recomenda-se
que técnicas de linguagem usem, quando possível, termos que expressem a dualidade
esperança-preocupação do médico.
Tempo
de vida
Para
alguns pacientes, conhecer “o tempo que lhes resta de vida” pode significar a
oportunidade de planejar o futuro, focando no alcance de metas urgentes e
importantes para ele e para a família. No entanto, a comunicação de um “tempo específico,
por exemplo 6 meses, não reconhece a variabilidade da resposta de cada
organismo ao tratamento mesmo que este seja de caráter paliativo. Fixar “um tempo”
pode sobrecarregar os pacientes emocionalmente e minar a confiança entre médicos
e pacientes e suas famílias. Por esse motivo, é útil considerar o uso de
intervalos (“horas a dias”, “dias a semanas”, “meses a um ano”) para comunicar
um prognóstico baseado no tempo, por exemplo: "Espero que o tempo seja
de meses a um ano e faremos o possível para que seja o máximo possível, mas também
me preocupa que possa ser mais curto do que isso. ”
Funcionalidade
futura
Pacientes
com doenças graves passam a estabelecer prioridades como parte do planejamento
futuro, além claro, daquela que envolva a maior sobrevida possível. Entre elas
estão a manutenção de inúmeras funções que lhes permitam viver dignamente e com
qualidade. Os pacientes geralmente desejam manter sua independência, para
continuar atividades pessoais essenciais, como asseio pessoal, deambulação, atenção
as necessidades fisiológicas, ou atividades usuais de trabalho ou de lazer,
como jardinagem ou pintura, evitando sobrecarregar os outros com seus cuidados.
Como é provável que uma doença afete a capacidade funcional, conhecer o grau de
limitação, pode ser muito mais importante para um paciente e sua família do que
entender quanto tempo resta. Preparação para um estado funcional com limitações
também pode ajudar os pacientes a lidar e pode capacitar os pacientes a agir de
acordo com as metas, enquanto ainda é possível fazê-lo. Por exemplo, pacientes
com doença de Parkinson ou esclerose lateral amiotrófica sofrem declínio
funcional previsível ao longo do tempo. Essa previsibilidade pode ajudar
pacientes, familiares e médicos a fazer planos para maximizar a independência
do paciente, tanto quanto possível, enquanto também se prepara para mudanças
futuras. Os médicos podem usar a seguinte expressão: “Espero que você possa
manter a máxima independência possível e vamos trabalhar juntos para conseguir
esse objetivo, mas também estou preocupado com que você possa ficar mais fraco
com o passar do tempo e a progressão da doença, limitando essa capacidade”.
Imprevisibilidade
Pacientes
com doenças graves, incuráveis ou irreversíveis em estágio terminal, pode viver
um período que seria impossível estabelecer com absoluta certeza. Prazos como
meses ou até anos, tem sido motivo de debate na literatura para definir “paciente
terminal”, entretanto não existe unanimidade sobre o assunto[4].
Ainda, nesse período, poderão ocorrer intercorrências agudas imprevisíveis que
resultam em severa limitação ou até morte. Para ajudar os pacientes a entender e
se preparar para a ocorrência desses eventos sem minar sua esperança de
sobrevivência e qualidade de vida contínuas, a seguinte expressão pode ser
útil: “Espero que você possa viver o máximo de tempo possível, e
continuaremos trabalhando para conseguir esse objetivo, mas como pode ser
difícil prever o que vai acontecer com a sua doença, estou também preocupado
que você possa ficar muito doente de repente, e eu acho que é importante que
nos preparemos para essa possibilidade”. Compartilhar essa possibilidade
com antecedência pode dar aos pacientes tempo para pensar sobre o que seria
importante para eles. Também poderia promover discussões para preparar
pacientes, equipes de assistência e cuidadores para mudanças repentinas, quando
decisões médicas urgentes ou consequentes possam precisar ser feitas pelo
paciente ou cuidador se o paciente não puder expressar sua vontade. O ônus da
tomada de decisão durante crises agudas cria angústia para pacientes e
familiares que podem ser reduzidos por uma adequada preparação e planejamento.
Conclusões
O
prognóstico da comunicação é difícil para pacientes, famílias e médicos. No
entanto, uma comunicação de alta qualidade para pessoas que vivem com doenças
graves inclui o compartilhamento de informações usando abordagens centradas no
paciente. Comunicar o prognóstico além do mero tempo estatístico de sobrevida,
abrangendo expectativas e desejos do paciente, usando uma técnica de linguagem
adequada que evite falsas expectativas, certamente pode manter uma adequada
relação médico-paciente-família.
Algumas
expressões que podem ajudar nessa comunicação são[5]:
"Gostaria
de falar sobre sua doença e o que está por vir, para pensar um pouco sobre o
que é importante para você, para que eu possa ter a certeza de lhe oferecer os
cuidados que você deseja que sejam feitos – tudo bem?”
“Quanta
informação gostaria de mim, sobre sua doença e o que está por vir?
"Qual
é a sua compreensão agora, de onde você está com sua doença?"
"Quero
compartilhar com você minha compreensão de onde as coisas estão com sua doença
..."
“Gostaria
que lhe explique mais alguma coisa sobre sua doença e o que está por vir?
“Espero
que você possa viver o máximo de tempo possível, e continuaremos trabalhando
para conseguir esse objetivo, mas como pode ser difícil prever o que vai
acontecer com a sua doença, estou também preocupado que você possa ficar muito
doente de repente, e eu acho que é importante que nos preparemos para essa
possibilidade”.
“Espero
que você possa manter a máxima independência possível e vamos trabalhar juntos
para conseguir esse objetivo, mas também estou preocupado com que você possa
ficar mais fraco com o passar do tempo e a progressão da doença, limitando essa
capacidade”.
"Espero
que não se apresentem complicações, mas estou preocupado que isso possa acontecer,
e as coisas provavelmente aí ficarão mais difíceis”
"O
que você desejaria que seja feito ou que não seja feito, se a sua situação de
saúde piorar?"
"Quais
são seus maiores medos e preocupações com o futuro?"
"O
que lhe dá forças ao pensar no futuro?"
"Quais
são as coisas mais importantes na sua vida que seria muito difícil deixar de
fazer?"
“Se
a sua saúde piorar, gostaria de ficar em casa ou preferiria ser levado para um
hospital?
“Se
você ficar mais doente, e houver necessidade de ter que fazer tratamentos para
prolongar sua vida, você gostaria que sejam feitos? "
"Quanto
sua família sabe sobre suas prioridades e desejos?"
"Eu
ouvi você dizer que ___ é realmente importante para você. Mantendo isso em
mente, e o que nós sabemos sobre sua doença, eu recomendo que nós ___. Isso nos
ajudará a garantir que seu plano de tratamento seja aquilo que realmente é
importante para você. "
"Que
lhe parece esse plano?"
"Farei
tudo o que puder para ajudá-lo com isso."
[1] Pessini L. Bioética e cuidados
paliativos: alguns desafios do cotidiano aos grandes dilemas. In: Pimenta CAM,
Mota DDCF, Cruz DALM. Dor e cuidados paliativos: enfermagem, medicina e
psicologia. 1. ed. Barueri, SP: Manole; 2006
[2] RESOLUÇÃO CFM Nº 2.217/2018. Publicada
no D.O.U. de 01 de novembro de 2018, Seção I, p.179.
[3]https://telessaude.ufsc.br/como-comunicar-o-paciente-sobre-um-possivel-diagnostico-de-cancer-de-boca/
[4] David Hui. et.al., Concepts and
Definitions for “Actively Dying,” “End of Life,” “Terminally Ill,” “Terminal
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segunda-feira, 29 de julho de 2019
“KETOFOL” E “KETODEX”:
OPCÕES FUTURAS NA UTI?
*Dr. Alejandro Enrique Barba Rodas. Médico Intensivista. Coordenador da Unidade Coronariana da Santa Casa de São Jose dos Campos.
INTRODUÇÃO
Na Unidade de Terapia Intensiva
(UTI) comumente nos deparamos com a necessidade do uso de drogas analgésicas e
sedativas para realizar procedimentos de curta duração (intubação endotraqueal,
cardioversão elétrica sincronizada, endoscopia digestiva, broncoscopia, etc) ou
de longa duração (analgesia e sedação continua).
A intubação endotraqueal (IOT) é
um procedimento de salvamento que é realizado em várias situações dentro do
hospital ou até mesmo no campo pré-hospitalar. Entretanto, pode resultar em
complicações hemodinâmicas graves, como hipotensão pós-intubação (HPI) e parada
cardíaca (PCR). Existem várias definições descrevendo a HPI na literatura. Uma
definição clinicamente relevante descreve-a como uma diminuição na pressão
arterial sistólica (PAS) para ≤ 90 mmHg, uma diminuição na PAS de ≥ 20% desde o
início, uma diminuição na pressão arterial média (PAM) ≤ 65 mmHg, ou a
necessidade de usar de vasopressores dentro dos 30 minutos após a intubação[1]. Embora todas as definições de PIH concordem com o conceito de redução da
pressão arterial após a intubação, elas podem discordar da expressão do
declínio ou da sua duração após a intubação.
As causas e mecanismos da HPI são
provavelmente multifatoriais, dentre as quais se destacam a perda abrupta de
tônus adrenérgico devido a drogas sedativas ou às drogas paralisantes que
diminuem a resistência vascular; drogas que provocam bradicardia; aumento da
pressão intratorácica devido à ventilação com pressão positiva, que afeta
negativamente o retorno venoso ao coração (pré-carga); efeitos colaterais
diretos de agentes de indução no sistema cardiovascular e a depleção de volume
preexistente ou acidose grave, que são transitoriamente agravados pela pCO2
durante o período de apneia[2].
Um grande estudo multicêntrico prospectivo
de vigilância avaliou 17.583 intubações de emergência para identificar eventos
adversos peri-entubação. Os eventos adversos mais comuns da intubação
endotraqueal foram hipotensão (1,6%) e parada cardíaca (1,5%)[3].
A PIH ocorre em até um quarto das
intubações de emergência e está associada a alta mortalidade e maior cuidado na
UTI[4]
[5].
A incidência fora da unidade de emergência varia de acordo com o cenário,
características clínicas do paciente e causa da intubação, mas geralmente varia
de 5% a 45% dos pacientes intubados. No entanto, como a hipotensão afeta a
perfusão de órgãos, as evidências confirmam que mesmo um breve episódio de
hipotensão é um fator contribuinte para a mortalidade e a morbidade do paciente[6]
[7]
[8].
Como a PIH é reconhecida como uma
complicação comum com desfechos ruins, é fundamental não apenas identificar os
pacientes suscetíveis, mas minimizar suas possíveis causas.
Como já citado acima, as
medicações usadas durante a intubação têm sido reconhecidas como uma das
causas, dentro do espectro multifatorial. Assim, estudos em adultos vêm sendo
feitos através da combinação de drogas que ajudem a minimizar a ocorrência de
PIH.
KETOFOL (KETAMINA + PROPOFOL)
Procedimento de sedação e
analgesia (PSA) feito principalmente em situações de urgência e emergência
precisa ser feito de forma segura e eficaz. Os objetivos do PSA incluem
fornecer um nível adequado de sedação, minimizando a dor e a ansiedade,
maximizando a amnésia, minimizando o potencial de eventos adversos relacionados
à droga e mantendo um estado cardiovascular e respiratório estável.
Fonte: Bahn EL, Holt KR. Procedural sedation and analgesia: a
review and new concepts. Emerg Med Clin North Am. 2005;23(2):503-‐17.
O agente farmacológico ideal para
o PSA deveria atingir todos esses objetivos, ter um início de ação e
metabolismo rápidos, ser seguro em todas as faixas etárias, ser barato e ser
igualmente eficaz em várias vias de administração. Infelizmente, neste momento
não existe um único agente que possua todas as qualidades mencionadas, de modo
que os médicos devem usar combinações de drogas diferentes para alcançar o
maior número possível de metas desejadas. Uma dessas combinações descritas pela
literatura é a associação em baixas doses de ketamina e propofol (“ketofol”).
A ketamina foi desenvolvida na
década de 1960 como um anestésico mais seguro e previsível do que sua
precursora fenciclidina. É um agente único no PSA, pois é um anestésico
“dissociativo” que funciona bloqueando a comunicação entre as regiões talâmica
e límbica do cérebro, impedindo assim que o cérebro processe estímulos externos[9].
Provoca amnésia e analgesia e preserva o tônus muscular mantendo os reflexos
protetores das vias aéreas e a respiração espontânea[10]
[11].
Apesar de suas vantagens óbvias em relação a outros agentes, alguns médicos
hesitam em usar ketamina isoladamente, devido à sua propensão a causar reações
adversas que incluem efeitos simpaticomiméticos e vômitos quando administrados
em doses sedativas[12]
[13].
O propofol é um sedativo
não-barbitúrico hipnótico desenvolvido na Europa na década de 1970 e foi gradualmente
utilizado por anestesiologistas nos Estados Unidos nas duas décadas seguintes. Seu
uso se espalhou para o Departamento de Emergência (DE) e UTI como parte do
arsenal para PSA. Sua popularidade como agente de PSA está crescendo
rapidamente devido principalmente ao seu perfil farmacocinético favorável, uma
vez que a solubilidade lipídica confere um rápido início e curto tempo de
recuperação[14].
Também tem as vantagens de funcionar como agente antiemético, anticonvulsivante
e amnésico[15].
Embora extremamente eficaz e potente, o uso de propofol é limitado por uma
incidência relativamente alta de hipotensão dose-dependente e depressão
respiratória[16] [17]
[18].
Postula-se que a combinação
desses dois agentes para PSA pode preservar a eficácia da sedação, minimizando
seus respectivos efeitos adversos. Isso se deve em parte ao fato de que muitos
dos potenciais efeitos adversos mencionados anteriormente são dose-dependentes
e, quando usados em combinação simultânea, as doses administradas de cada um
podem ser reduzidas[19].
Além disso, os efeitos cardiovasculares de cada um são opostos em ação,
equilibrando teoricamente uns aos outros quando administrados juntos. Essa
vantagem teórica do ketofol produzindo um perfil hemodinâmico e respiratório
mais estável foi testada e verificada como verdadeira em um grupo de pacientes
saudáveis que receberam anestesia geral[20].
Fonte: https://epmonthly.com/article/rx-pad-could-ketadex-be-the-next-ketofol/
Em 2008 foi publicada uma revisão
da literatura sobre a administração em bolus do ketofol para PSA (cateterismo
cardíaco em crianças, extração de catarata e biopsia de endométrio em adultos,
procedimentos ortopédicos) Embora os estudos revisados foram pequenos, todos
exceto um, concluíram que a combinação de ketamina e propofol em forma de bolus
proporciona sedação segura e eficaz, no departamento de emergência para PSA[21].
Ketofol também sido usado em procedimentos de endoscopia digestiva em adultos,
mostrando menor tempo médio de recuperação que o propofol, melhor estabilidade
hemodinâmica e escores de satisfação, sem quaisquer efeitos colaterais
importantes [22].
Ketofol em infusão continua também sido descrito na literatura, fornecendo
sedação adequada e segura quando usada por curto período de tempo (menos de 24
horas) para pacientes gravemente enfermos nas unidades de terapia intensiva,
com recuperação rápida e sem complicações clinicamente significativas[23].
O estudo de Wang e col. (2012)
investigou as misturas de propofol-ketamina nas proporções de 2: 1; 3: 1 e 4: 1
comparadas com a combinação de propofol e fentanil, bem como com o propofol
isolado. O estudo demonstrou que o ketofol era tão seguro e eficaz quanto a
combinação de propofol e fentanil. As proporções de 2: 1, 3: 1 e 4: 1 foram
muito eficazes para o procedimento. A eficácia da sedação, recuperação e tempo
de descarga nas proporções de 3: 1 e 4: 1 de ketofol se apresentaram
comparáveis. Além disso, a incidência de depressão respiratória e tontura
pós-procedimento na proporção de 4: 1 (40 mg de ketamina e 160 mg de propofol
em seringa de 20 mL) foi relativamente menor do que nas outras proporções de ketofol.
Doses adicionais de propofol no grupo propofol foram também significativamente
maiores[24].
Phillips et al. compararam a combinação
ketamina + propofol com propofol em 28 pacientes submetidos a PSA no serviço de
emergência. As doses intravenosas de ketamina variaram de 0,5 a 1 mg/kg, com
0,75 mg/kg de propofol. As doses intravenosas comparativas de propofol variaram
de 0,5 a 1,5 mg/kg. O desfecho primário foi a adequação da sedação medida pela
escala do índice bispectral (BIS). O grupo ketofol apresentou menor diferença
no BIS entre a linha de base e a meta de sedação. Os resultados de segurança
revelaram uma redução significativamente menor da pressão arterial no grupo
ketofol. Nenhum dos grupos apresentou depressão respiratória ou diferença
significativa no tempo de sedação[25].
Mais recentemente em janeiro de
2019, foi publicada uma revisão sistemática com metanálise para avaliar o uso
de ketofol na unidade de emergência. Foi realizada uma pesquisa nos bancos de
dados do PubMed, Scopus, ProQuest, Medline (Ovíd) de 1990 a agosto de 2017
selecionando ensaios clínicos randomizados (ECR) abrangendo uma população do
estudo com idade ≥18 que foi admitida na emergência. O número total de
indivíduos foi 1250, dos quais 635 foram tratados com propofol e 615 foram
tratados com ketofol. Apesar de dois dos cinco estudos demonstrarem melhor
qualidade de sedação com ketofol, os outros três não encontraram diferença
significativa entre o propofol e o ketofol. Entretanto, o estudo encontrou uma
menor incidência de efeitos adversos respiratórios no grupo ketofol do que no
grupo propofol. Com relação à proporção das drogas na mistura, os estudos
mostraram indivíduos que receberam doses na proporção de 1:1 a 1:4
(ketamina-propofol) não sendo encontrada diferença significativa no tempo de
sedação, satisfação do paciente e efeitos adversos. Assim, houve doses
descritas de 0.75mg/kg-0.75mg/kg; 1mg/kg-1mg/kg; 1,3mg/kg-1.3mg/kg;
0.5mg/kg-1.5mg/kg. A revisão sistemática e metanálise conclui que a mistura de ketamina/propofol
(ketofol) tem menos efeitos adversos respiratórios do que o propofol isolado quando
usada na sedação de procedimento na unidade de emergência[26].
Especificamente para intubação
endotraqueal, existem estudos que avaliaram a eficácia do uso do ketofol na
redução do risco de HPI. Em 2015, uma revisão de series de casos concluiu a combinação
ketofol foi associada a sedação adequada e estabilidade hemodinâmica por até 15
minutos após a intubação[27].
Mais recentemente (16/07/2019) foram publicados os resultados do PACE Trial. O
objetivo foi determinar se uma mistura de ketamina e propofol para intubação
endotraqueal de emergência em pacientes críticos era superior ao etomidato. O endpoint
primário foi a alteração na pressão arterial média desde o início até 5
minutos após a administração do fármaco. Trata-se de um ensaio clínico de
superioridade em grupo, de pacientes da emergência, estratificado, com
múltiplas unidades, randomizado, conduzido em um centro médico acadêmico
terciário. Os pacientes adultos/cirúrgicos/ de transplante/unidade de terapia
intensiva oncológica submetidos à intubação de emergência foram aleatoriamente
distribuídos para receber ou uma mistura de doses baixas de ketamina/propofol
[0,5 mg/kg de ketamina e propofol cada] ou dose reduzida de etomidato [0,15
mg/kg] para intubação de emergência. 160 participantes foram randomizados e 152
(79 de ketamina/propofol, 73 de etomidato) foram incluídos na análise. Não
houve diferença estatisticamente significativa na alteração da pressão arterial
média desde o início até 5 minutos após a administração do fármaco [diferença
de tratamento (PAM com mistura de ketamina/propofol – PAM com etomidato): -2,1
mmHg; IC 95% (-6,9 mmHg, +2,7 mmHg); P = 0,385]. Além disso, nenhuma diferença
estatisticamente significativa foi demonstrada na alteração da pressão arterial
média em relação aos valores basais aos 10 e 15 minutos após a administração da
droga, sem diferença estatística no uso de agentes vasoativos de início recente
ou dificuldade de intubação entre os grupos. Mais pacientes no grupo do
etomidato necessitaram de transfusões de series não-vermelhas [16 (22%) vs. 8
(10%), P = 0,046]. Para pacientes que realizaram teste da adrenal, mais
pacientes no grupo etomidato desenvolveram insuficiência adrenal imediata
[13/16 (81%) vs. 5/13 (38%), P = 0,027]. Eventos adversos graves foram raros, 2
(3%) [parada cardíaca, hipotensão] na mistura ketamina/propofol e 4 (5%) [hipertensão,
hipotensão] com etomidato (P = 0,430). O PACE Trial conclui que em uma
população heterogênea de paciente críticos, a mistura de ketamina/propofol não
foi superior a uma dose reduzida de etomidato na preservação da hemodinâmica
por intubação, mas parece ser um agente de indução alternativo seguro em
pacientes críticos[28].
A ketamina (ou cetamina) vem geralmente
em fr.-ampola de 10 mL contendo 50mg/ml de cloridrato de cetamina. O propofol
vem em ampolas de 10mg/ml.
Para administração em bolus, sando
a proporção para uma mistura de ketofol de 1:1, aspira-se numa seringa de 20ml,
8ml de SF 0.9% e logo 2ml de ketamina (100mg). A seguir, aspira-se 10ml de
propofol (100mg) obtendo-se uma solução de 20ml de ketofol contendo 5mg/ml de
cada droga. Usando 1mg/kg para um paciente de 70kg teria que se usar 70mg o que
corresponderia a 14ml de propofol (5mg/ml). Caso deseje-se usar 0.5mg/kg
administra-se 7ml da solução de ketofol[29].
KETADEX OU KETODEX (KETAMINA +
DEXMEDETOMIDINA)
A dexmedetomidina é um agonista
adrenérgico alfa-2 central altamente seletivo que liga todos os três subtipos
(A, B e C) dos receptores alfa-2 adrenérgicos no cérebro. É semelhante à
clonidina, mas 8 a 10 vezes mais específica para o receptor alfa-2 central. A
dexmedetomidina induz a sedação agindo no locus ceruleus, aumentando assim a
atividade dos neurônios GABA inibitórios no SNC. Sua seletividade para os
receptores do SNC lhe permite sedação moderada que espelha a fase não-REM do
sono natural, sem depressão respiratória excessiva ou vasodilatação. Tem efeito
amnésico mínimo em comparação com alguns outros sedativos. A dexmedetomidina
foi inicialmente aprovada pela FDA em 1999 como um sedativo de curto prazo para
pacientes criticamente doentes, ventilados mecanicamente. Tem sido amplamente
utilizado e estudada nas áreas de anestesia e cuidados intensivos para uma
variedade de indicações incluindo: sedação e analgesia contínuas, prevenção e
controle de delirium em UTI, síndromes de abstinência de álcool e drogas,
atenuação dos efeitos cardiovasculares da intoxicação por estimulantes agudos
anestesia neuroaxial e regional, e para melhorar a sincronia do ventilador na
intubação acordada[30]
[31]
[32].
A monoterapia com dexmedetomidina
pode não ser ideal para a sedação durante o procedimento devido ao tempo de
recuperação tardio, e por possuir analgesia e amnésia limitadas. Há um
interesse crescente na combinação de dexmedetomidina com ketamina, às vezes
chamada de “ketadex” ou “ketodex”. Tanto a experiência anedótica quanto alguns
estudos piloto demonstram a utilidade e a justificativa da terapia combinada.
Quando usada em combinação, a dexmedetomidina pode limitar a taquicardia, a
hipertensão, a sialorréia e os efeitos colaterais dissociativos associados à Ketamina[33]
[34]
[35]
[36].
O início rápido da ketamina permite uma sedação rápida, enquanto a estimulação
do aumento do fluxo do sistema nervoso simpático evita a bradicardia e a
hipotensão relatadas com a dexmedetomidina[37].
A literatura sobre a combinação de dexmedetomidina e ketamina é limitada, mas
promissora. Um recente estudo piloto sugerem que a combinação de Ketamina e
dexmedetomidina para o PSA adulto no departamento de emergência é uma
alternativa segura e eficaz a outros agentes atualmente disponíveis para o PSA,
apresentando uma baixa incidência de efeitos adversos respiratórios e um perfil
de segurança que se aplica a uma população com risco aumentado para esses
eventos[38].
Estudo recente mostrou a utilidade do ketodex para sedação de paciente
submetidos a exame de ressonância magnética. A eficácia da sedação com ketodex
mostrou menor tempo de varredura e menor ocorrência de complicações comparadas
ao midazolam[39].
Usualmente dexmedetomidina
(ampolas de 2ml com 100mcg/ml) é usada numa dose de ataque de 1 mcg/kg ao longo
de 10 minutos, seguida por uma infusão de 0,2-0,7mcg/kg/h para sedação
contínua. Quando combinado com ketamina, o esquema mais comum é um bolus de 1
mg/kg de ketamina + 1mcg/kg em bolus de dexmedetomidina. Estes podem ser
combinados em 100 mL de solução salina normal e administrados durante 10
minutos. Se sedação adicional for necessária, uma infusão de dexmedetomidina a
1 mcg/kg/h e bolus de 0,25-0,5 mg/kg de ketamina intermitente podem ser
administrada conforme necessário a cada 10-15 minutos até que o procedimento
esteja completo. A reação adversa mais comumente relatada com a dexmedetomidina
intravenosa é bradicardia e hipotensão. Esses efeitos podem ser
dose-dependentes ou cumulativos quando o medicamento é usado em conjunto com
outros sedativos que compartilham esses efeitos adversos. Diversos estudos e
relatos de casos mostraram que a infusão contínua e em bolus nas doses
descritas acima é segura e eficaz, com potencial mínimo de efeitos adversos. O
uso deve ser evitado em pacientes em uso de betabloqueadores e naqueles com
disfunção hepática significativa[40].
Entretanto, recentemente em
janeiro de 2019 no Society of Critical Care Medicine’s 2019 Critical Care
Congress (48th Critical Care Congress) foi apresentado um estudo australiano
mostrando que pacientes que recebem doses analgésicas de ketamina seguidas de
dexmedetomidina (combinação não simultânea) devem ser cuidadosamente monitorizados
antes e imediatamente após alta hospitalar por causa de potenciais efeitos
neurocognitivos comportamentais decorrentes da combinação dessas drogas.
Segundo esse estudo nas doses analgésicas necessárias para o alívio da dor, a ketamina
administrada em combinação com dexmedetomidina prejudica o pensamento, o
comportamento e a memória. Estes efeitos ocorreriam tanto durante o período de
tratamento em que as drogas estão sendo administradas e até duas horas após o
tratamento. O estudo avaliou os efeitos neurocognitivos da ketamina isolada e
em combinação com dexmedetomidina ou fentanil em 39 pacientes. Os pacientes
receberam um bolus de ketamina de 0,3 mg/kg, seguido por uma infusão de ketamina
de 0,15 mg/kg por hora durante três horas. Uma hora e 30 minutos após receberem
a dose de ketamina, 19 pacientes receberam infusão de dexmedetomidina de 0,7
mcg/kg por hora e 20 receberam três injeções de 25 mcg de fentanil por 1,5
horas. Pacientes que receberam apenas ketamina tiveram sua velocidade
psicomotora significativamente reduzida, bem como a precisão das respostas às
duas perguntas simples e complexas. Além disso, a recordação e a memória de
reconhecimento também foram prejudicadas, mas a ketamina não alterou as funções
executivas. Após a administração concomitante de dexmedetomidina, os efeitos negativos
de desempenho pioraram e os déficits de memória foram persistentes no
pós-tratamento (p <0,0001). Em contraste, aqueles que usaram fentanil tiveram
apenas um modesto déficit agudo na precisão psicomotora e velocidade (p<0,05).
Portanto, na comparação de grupos na co-administração de medicamentos revelou
déficits neurocognitivos comparativamente maiores na associação
ketamina-dexmedetomidina (p<0.05) caraterizados por acentuado prejuízo nas
habilidades relacionadas à velocidade psicomotora, atenção, inibição da
resposta, flexibilidade cognitiva, processamento mental e memória, sugerindo
assim um efeito sinérgico da dexmedetomidina sobre os efeitos neurocognitivos
produzidos pela ketamina quando usadas em doses analgésicas[41].
CONCLUSÃO:
Muito embora o uso de combinações
de drogas como ketamina + propofol (ketofol) e ketamina + dexmedetomidina (ketodex)
seja uma prática muito frequente no campo da anestesia e nos procedimentos de
sedação e analgesia nas unidades de emergência, ainda existe pouca evidência
acerca da sua segurança e eficácia em pacientes das unidades de terapia
intensiva. Embora seja um campo promissor, há necessidade de se aguardar maiores
estudos que contemplem pacientes internados na UTI.
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