TERAPIA INALATÓRIA BRONCODILATADORA NA U.T.I.
Dr. Alejandro Enrique Barba Rodas. Médico Intensivista. Coordenador da Unidade Coronariana da Santa Casa de São Jose dos Campos.
Terapia inalatória ou aerossolterapia em
pacientes graves/críticos, especialmente quando estão em ventilação mecânica
tem sido campo de investigação e estudo para administração de medicações como broncodilatadores,
corticoides, antinflamatórios, antibióticos e surfactante.
Frequentemente nos deparamos na U.T.I.
com pacientes aos quais se indica uma terapia inalatória com uso de medicação
broncodilatadora (principalmente fenoterol com ou sem associação de brometo de
ipratróprio), em razão de algum quadro de broncoespasmo por diferentes
patologias (asma, DPOC, ICC descompensada, reação anafilática, etc). A despeito
de cada uma dessas patologias ter uma fisiopatologia diferente na geração e
intensidade do broncoespasmo, a prescrição dessa terapia deverá seguir uma técnica
e dosagem corretas para garantir sua eficácia, levando em consideração se o
paciente está ou não em ventilação mecânica e se tem alguma contraindicação
para o uso dessas medicações inalatórias. Em adultos, a terapia inalatória
broncodilatadora é a mais frequentemente utilizada.
As duas medicações mais usadas na UTI
para terapia inalatória broncodilatadora são:
1.
FENOTEROL (agonista b2 adrenérgico):
apresentação de 5mg/ml (exemplo: berotec)
2.
BROMETO DE IPRATRÓPRIO (anticolinérgico): apresentação de 0.25mg/ml (exemplo: atrovent)
Sabe-se que nos Estados Unidos a
referência é feita com base no Albuterol, denominação americana (USAN) do
Salbutamol (Denominação Comum Internacional)[1].
Fora dos Estados Unidos, como no Brasil, temos o Fenoterol cujas doses para
terapia inalatória são consideradas equivalentes às do salbutamol (albuterol)[2] [3] [4].
O UpToDate, traz uma boa referência de
como usar tais medicações em pacientes ≥ 12 anos[5]:
Albuterol
(salbutamol): Para broncoespasmo
simples a dose usual seria de 2,5 mg 3 a 4 vezes ao dia, conforme necessário.
Para alívio rápido: 1,25 a 5 mg a cada 4 a 8 horas, conforme necessário. Entretanto
para crise de asma severa a dose recomendada é de 2,5 a 5 mg a cada 20 minutos
por três doses. A seguir 2,5 a 10 mg a cada 4 horas, conforme necessário, ou 10
a 15 mg/hora continuamente. Apenas beta2-agonistas seletivos são recomendados.
Para uma liberação ideal, diluir num mínimo de 3 mL com fluxo de gás de 6 a 8 L/min.
Usar nebulizadores de grande volume para administração contínua. Pode-se
misturar no nebulizador com solução de ipratrópio. Salienta que, as doses mais
altas estão associadas a efeitos colaterais simpatomiméticos frequentes e
graves e geralmente são reservadas para crises muito graves e refratárias. Ainda,
altas doses podem estar associadas a hipocalemia e acidose láctica. De fato, as
doses de albuterol para tratamento de hipercalemia seriam de 10 a 20 mg (40 a
80 gotas) em 10 minutos em combinação com outras terapias recomendadas.
Considerando que a dose recomendada para
broncoespasmo severo seria de 2,5 a 5mg por inalação, equivale a dizer 10 a 20
gotas da medicação padronizada no Brasil. Portanto, para ≥12 anos, a dose
efetiva seria de no mínimo 10 gotas por inalação. Conforme já anotado, as
mesmas doses valem para o fenoterol.
Ipratróprio: A dose em adultos de ipratrópio para
nebulização é de 500 mcg a cada 20 minutos por três doses, depois conforme
necessário. Considerando a apresentação do produto no Brasil (0.25mg/ml =
250mcg/ml), equivale a 2ml (40 gotas) por inalação.
Recomenda-se interromper a terapia
anticolinérgica de curta duração inalatória quando o paciente for admitido no
hospital, exceto naqueles pacientes com asma refratária que necessitam de
tratamento na unidade de terapia intensiva; estão sob terapia com inibidores da
monoamino-oxidase (que podem ter maior toxicidade por metabolismo prejudicado da
terapia simpatomimética); têm doença pulmonar obstrutiva crônica com um
componente asmático e aqueles cuja asma foi desencadeada pela terapia com
beta-bloqueadores. A descontinuação da terapia broncodilatadora anticolinérgica
de curta duração em pacientes hospitalizados baseia-se em estudos em crianças
que não encontraram benefício da continuação de broncodilatadores anticolinérgicos
inalatórios em pacientes hospitalizados.
Entretanto, as recomendações acima valem
para pacientes em ventilação espontânea e não intubados. Para pacientes graves,
intubados e em ventilação mecânica devem ser fazer algumas considerações para
otimizar sua eficácia em reação à técnica e dosagem adequadas.
Técnica
adequada (condições ideais)
Os aerossóis são partículas líquidas ou
sólidas suspensas no ar ou em meio gasoso carreador de forma estável.
Estabilidade é a capacidade que essas partículas possuem de manter-se no meio
gasoso como um aerossol.
-A penetração dos aerossóis no trato
respiratório inferior será prejudicada pela impactação das partículas de 10 a
100 μm, que normalmente colidem na boca, nariz, nas outras estruturas das vias
aéreas superiores ou no tubo endotraqueal. Partículas < 5 μm tem maior
probabilidade de deposição na periferia pulmonar (ultimas 5 a 6 gerações de
vias aéreas, e parênquima propriamente dito). As partículas de 2 a 5 μm se
depositarão na árvore brônquica. A gravidade é o mecanismo que favorece a
sedimentação, de modo que as partículas maiores, de maior massa, são mais
susceptíveis a esta força. Partículas entre 4 a 5 μm se depositam primariamente
nas vias condutoras brônquicas mais proximais e somente as partículas de 1 a 2 μm
alcançam os alvéolos. Dispositivos que produzem aerossol com diâmetro aerodinâmico
médio de massa com 1 a 3 μm são mais eficientes durante a ventilação mecânica
que aqueles que produzem partículas maiores. O principal mecanismo de deposição
das pequenas partículas é a difusão browniana. Nos alvéolos, essas partículas
de baixo peso molecular colidem entre si.
-A velocidade do fluxo, a turbulência e
o trajeto destas também influenciam na deposição dos aerossóis nas vias aéreas.
-A deposição dos aerossóis durante a
ventilação mecânica é menor do que 5% comparados aos 10% quando se utiliza
nebulização sem a via aérea artificial. Isto se deve à vários fatores, tais
como:
a) os relacionados ao ventilador (modo,
volume corrente, frequência respiratória, calibre do tubo orotraqueal);
b) os relacionados ao circuito (tipo de
adaptador utilizado, posição do espaçador, tamanho do tubo endotraqueal,
umidade, densidade e viscosidade do gás;
c) os relacionados às drogas (dose,
tamanho das partículas) e
d) os relacionados ao paciente:
gravidade e mecanismo da obstrução, presença de auto-PEEP e hiperinsuflação
dinâmica)[6].
A terapia inalatória pode ser feita usando:
a) nebulizadores
a jato, também chamados pneumáticos ou convencionais (usam jato de ar
comprimido e produzem aerossóis de menor diâmetro);
b) nebulizadores
ultrassônicos (produzem aerossóis de maior diâmetro, provocam hiperaquecimento
das partículas e não se recomendam para inalação de antibióticos);
c) inaladores
pressurizados de dose medida (MDI ou metered-dose
inhaler), comumente utilizados com espaçadores, que devem ser conectados
diretamente no ramo inspiratório do circuito do ventilador.
-Os inaladores de pó seco (DPI ou dry powder inhaler) não são
indicados para o uso em pacientes ventilados mecanicamente pela adsorção do
fármaco no circuito. Atualmente, vários modelos de ventiladores operam com
nebulizadores a jato e podem sincronizar o fluxo em jato da nebulização com a
fase inspiratória do ciclo respiratório. Recentemente surgiu uma nova geração
de nebulizadores, denominados “nebulizadores
de membrana ou em malha” ou “vibrating mesh”, que atuam por vibração de
forma semelhante aos ultrassônicos, mas sem hiperaquecimento e cuja eficiência
na entrega da droga é estimada ser de duas a quatro vezes maior que a dos
nebulizadores de jato. Tido como o melhor dispositivo para administrar antibióticos[7].
-Quanto as caraterísticas da terapia
inalatória em pacientes intubados e em ventilação mecânica a literatura tem se
mostrado controversa em alguns aspectos. De acordo com uma revisão feita em
2015 por Maccari J.G. e col[8].,
os efeitos benéficos dos medicamentos inalatórios são menores em pacientes sob ventilação
mecânica (VM) do que naqueles em ventilação espontânea (VE). Segundo pontua
Maccari, em um estudo inicial, apenas 2,9% da dose administrada atingiu a via
aérea distal em comparação com 11,9% quando a dose foi administrada sem via
aérea artificial, o que pode ser devido a uma perda substancial de droga
causada pelo fluxo turbulento produzido pela prótese respiratória. Entretanto,
não foi demonstrada uma diferença clínica entre o uso de um ou de outro tipo de
nebulizador. Atualmente, acredita-se que o uso de MDI com espaçador é tão
eficaz quanto o uso de nebulização, sendo mais prático, exigindo menos tempo
para administração e sem a necessidade de desconexão do circuito ventilatório a
cada dose do tratamento. Vários outros fatores influenciam no depósito do
aerossol nas vias aéreas inferiores. Tais fatores incluem as propriedades relacionadas
ao medicamento (incluindo propriedades físicas e químicas), as características
do nebulizador e sua posição no circuito do ventilador, as configurações do
ventilador, os modos de ventilação, o aquecimento e umidificação do ar inalado,
as características do tubo endotraqueal, a anatomia das vias aéreas e a presença
de secreções respiratórias.
-Mesmo em pacientes dependentes de
ventilação, os broncodilatadores devem preferencialmente ser administrados com
a cabeceira elevada, uma vez que a posição sentada melhora o tempo de entrega
do fármaco.
-O aquecimento e a umidificação do ar
inspirado através de dispositivos denominados umidificadores aquecidos (UA) ou de filtros higroscópicos ou bacterianos (HME: heat moisture exchange; dispositivo que captura calor e
umidade do ar exalado e o transfere parcialmente na próxima inalação), usados
durante o suporte ventilatório para evitar danos ao epitélio brônquico causado por
ressecamento e para prevenção de pneumonia associada à ventilação mecânica
(PAV); aumentam a retenção de partículas no circuito do ventilador, reduzindo a
deposição de aerossóis nas vias aéreas mais distais em até 40 a 50% pelo que para
alguns deve se retirar o umidificador e/ou o filtro e para outros não em razão
dos efeitos protetores[9] [10]. Esta
observação também foi a base para se recomendar o uso de doses elevadas de
broncodilatador para compensar essa redução[11]. Para
Maccari e col., dever-se-ia retirar o filtro HME recolocando-se logo depois de
concluído processo com todo cuidado de assepsia ou caso opte-se por mantê-lo
deve se evitar que fique entre o dispositivo gerador de partículas e o paciente
(já que a adsorção da medicação evitaria sua chegada nos seus locais de ação). Se
estiver sendo usado umidificador ativo (UA), o mesmo deve ser desligado 10
minutos antes da nebulização, posicionando o nebulizador no ramo inspiratório
próximo ao ventilador. Caso opte-se por não desligar o UA, o nebulizador deverá
ser posicionado no ramo inspiratório entre o ventilador e o umidificador[12]. Para
estes autores, o nebulizador deve ser idealmente colocado a uma distância de 20
a 30 cm do tubo endotraqueal, no ramo inspiratório, a aproximadamente 15cm
proximal da peça Y. Isso se deve à fato de que o ramo inspiratório do circuito
do ventilador atua como um reservatório de aerossol durante a espiração ou que
otimizaria a dose de oferta da droga.
-A sincronização da geração do aerossol
com o início do fluxo inspiratório aumenta a taxa de deposição pulmonar em até
30%, quando comparada com a liberação não sincronizada (em situações de
acentuada assincronia respiratória, existe a possibilidade de que administração
ocorra na fase expiratória, reduzindo substancialmente a eficácia da
terapêutica empregada).
-As configurações do ventilador também
desempenham um papel importante no fornecimento de medicamentos inalatórios. Um
volume corrente de pelo menos 500 ml, o aumento do tempo inspiratório (quanto
maior o tempo inspiratório, maior a geração de aerossóis, salvo para os
inaladores pressurizados, que por terem curto tempo de geração de aerossol, em
geral não são influenciados por esta questão) e o baixo fluxo inspiratório
(30-50 L/min, quanto menor o fluxo, menor o turbilhonamento) são recomendados
para otimizar o depósito da droga no pulmão. Fluxos altos e turbulentos podem
aumentar a compactação de partículas, aumentando o deposito e aderência de
partículas nas vias aéreas proximais, reduzindo a eficácia da medicação. Deve-se
prestar atenção, no entanto, aos efeitos adversos do volume corrente alto (>
500 ml) em pacientes com doença pulmonar obstrutiva, uma vez que pode piorar a
hiperinsuflação dinâmica ou causar barotrauma. De acordo com os autores de um
estudo in vitro, o fornecimento de medicamentos por nebulizadores pode variar
dependendo do modo de ventilação (isto é, ventilação controlada por pressão ou
ventilação controlada por volume). No entanto, não houve estudos clínicos
mostrando os efeitos benéficos de qualquer modo de ventilação em particular na
administração de medicamentos inalatórios.
-A densidade do gás inalado também
influencia a liberação da droga. A inalação de um gás menos denso, como uma
mistura 70/30 de hélio e oxigênio, torna o fluxo de ar menos turbulento e mais
laminar, facilitando a liberação da droga inalada.
Em resumo, para Maccari e col., as
medidas para otimizar a eficácia da terapia inalatória seriam:
-A retirada do filtro umidificador
durante a inalação é recomendada pela American
Association for Respiratory Care[13],
entretanto existiria controversa em razão dos efeitos protetores da
umidificação já descritos[14].
-O Uso de onda de fluxo em rampa
descendente aparenta ter mais eficiência do que onda quadrada, para o mesmo
pico de fluxo, entretanto este efeito também não perece ser relevante nos
inaladores pressurizados.
-A utilização de misturas gasosas de
hélio e oxigênio (Heliox: 80% hélio/20% oxigênio) pode reduzir a turbulência no
circuito ventilatório e aumentar a deposição das partículas aerossolizadas nas
vias aéreas em até 50%, mas seu uso na prática é complexo, oneroso e ainda sem
grandes resultados de eficácia que justifiquem sua aceitação em grande escala.
-O uso de aerossóis em pacientes sob
ventilação não invasiva (VNI) é crescente, na medida em que esta modalidade se
difunde e comprovadamente melhora os resultados em pacientes com doença
obstrutiva respiratória aguda, principalmente em exacerbações em portadores de
DPOC.
-Apesar de dados clínicos serem
escassos, VNI poderia incrementar deposição de broncodilatador em pacientes com
doença obstrutiva, em função do gás administrado ser seco, os volumes correntes
serem maiores do que ventilação espontânea, poder-se combinar com PEEP externo,
como também pela ausência do tubo traqueal[15].
Dosagem
adequada
Com relação à dose de broncodilatador a
ser usada, Alexander G. Duarte em 2004 fez uma revisão apontando que com base
na constatação de que o depósito de aerossóis está marcadamente reduzido em
pacientes intubados e ventilados mecanicamente, maiores doses de
broncodilatador foram recomendadas para tais pacientes sem no entanto, especificar
a dosagem, levando alguns investigadores a propor que a dose do broncodilatador
seja titulada de acordo com o efeito fisiológico (dose-resposta). Entretanto, o
autor aponta que estudos de resposta à dose de broncodilatador em pacientes
ventilados mostraram-se significativos com 2,5 mg de albuterol via nebulizador ou
com 4 puff de MDI (400 mcg)[16]. Nessa
mesma linha, Ary et.al. em 2012 reporta que em pacientes ventilados
mecanicamente, efeitos broncodilatadores ocorrem após uso de nebulizador a jato
padrão na dose de 2,5 mg de albuterol ou quatro puffs (400 mcg) de MDI. Mínima
vantagem terapêutica foi obtida pela administração de doses mais altas, a
despeito de maiores efeitos secundários. Entretanto, em certas situações
clínicas, doses mais elevadas de broncodilatadores podem ser necessárias em
pacientes com obstrução grave das vias aéreas ou se a técnica de administração
não for a ideal. Usando uma técnica aprimorada, a maioria pacientes
mecanicamente ventilados com DPOC atingem uma broncodilatação máxima com a
administração de 4 puffs de albuterol com um inalador presurizado ou de 2,5 mg
com um nebulizador a jato[17]. Atualmente,
as Diretrizes Brasileiras de VM de 2013 definem como sugestão administrar as
medicações broncodilatadoras por via inalatória por meio de nebulizador ou spray
dosimetrado (MDI) acoplado a espaçador. O MDI apresenta as vantagens de maior
facilidade de manipulação, reprodutibilidade da dose e menor risco de
contaminação. Quando b2-agonistas adrenérgicos são administrados por meio de MDI,
sugere-se a dose de 4 jatos (inicialmente, com intervalo de 20 minutos até 3
vezes e, no tratamento de manutenção, a cada 2-4 horas[18].
Numa revisão de 2017, Dhand R. fez uma
revisão sobre o tema concordando com as ponderações de Duarte e acrescentando
que a duração da resposta ao broncodilatador, parece ser mais curta que em
pacientes com DPOC estáveis, mecanicamente ventilados do que em pacientes
ambulatoriais (2-3 horas e 4-6 h, respectivamente). Assim, esses pacientes necessitam
uma administração programada de broncodilatador beta-agonista de ação curta (albuterol)
a cada 3-4 h. Salienta que mesmo que o uso de umidificadores ativos tenha uma
redução na deposição do medicamento broncodilatador, a remoção do umidificador não
seria recomendado para a terapia de aerossol de rotina, pois significaria uma quebra do circuito e haveria que esperar
vários minutos para o mesmo secar. Aponta que para medicamentos baratos, como
salbutamol ou brometo de ipratrópio, aumentar a dose pode ser mais seguro do
que desligar o umidificador. Com relação ao filtro HME, salienta que o mesmo
captura partículas de droga aerossolizadas e reduz acentuadamente a eficiência
da deposição da droga. Portanto, o HME deve ser removido do circuito durante
tratamentos com nebulizador ou o mesmo deve ser colocado entre o HME e o TOT.
Enquanto a colocação de um MDI entre o HME e o TOT poderia fornecer partículas de
broncodilatador, com um nebulizador colocado distal ao HME, o refluxo de
aerossol pode depositar-se no filtro HME e aumentar a sua resistência ao fluxo
de ar, aumentando assim o trabalho de respiração para o paciente. Alguns
fabricantes introduziram HMEs que acomodam a entrega de aerossóis. Dentro estes
HMEs, o fluxo de gás inspiratório contorna o filtro em o HME durante a entrega
do aerossol de modo que é possível obter uma entrega adequada de aerossol sem
remover o HME do circuito. Assim, se uma atenção cuidadosa for dada à técnica de
administração sem retirar o umidificador e a dose de drogas for aumentada
levando em conta o efeito do calor e umidificação, quantidades adequadas de
drogas podem ser entregues aos pulmões de pacientes ventilados mecanicamente
para alcançar efeitos terapêuticos[19].
Dhanani Jayesh por outro lado salienta que o HME é uma barreira física que não
deve ser colocado entre o dispositivo de entrega e o paciente. Recomendada
retirar filtro e trocar após cada nebulização[20].
Dhand, na sua revisão de 2017
esquematiza as técnicas que otimizariam a terapia inalatória em pacientes em
ventilação mecânica:
I.
Técnica com nebulizador a jato
1. Coloque o paciente sentado ou semi-sentado
(salvo contraindicação para elevar a cabeceira do paciente)
2. Revise a prescrição, identifique o
paciente e avalie a necessidade da dose de uso de broncodilatador.
3. Aspire as secreções da orofaringe e
do TOT
4. Coloque o medicamento no nebulizador e
completar com diluente até volume de 4-6 mL.
5. Coloque o nebulizador no ramo
inspiratório a 18 polegadas (46 cm) do paciente-peça Y.
6. Desligue o bias fluxo ou fluxo contínuo durante a nebulização.
7. Remova o HME do circuito (não desligue
o umidificador).
8. Ajuste o fluxo de gás para o
nebulizador a 6–8 L / min.
a) Use um ventilador se ele atender aos
requisitos de fluxo do nebulizador e ciclos de inspiração ou,
b. Use fluxo contínuo de fonte externa
(~ 50 psi ou 3,44 atm).
9. Ajuste o volume do ventilador ou o
limite de pressão para compensar fluxo.
10. Toque no nebulizador periodicamente
até o nebulizador começar a crepitar.
11. Remover o nebulizador do circuito,
enxague com água esterilizada e seque. Guarde em local seguro.
12. Reconecte o HME, retorne as
configurações dos alarmes para valores anteriores.
13. Monitorize efeitos adversos.
14. Documente o resultado clínico.
II.
Técnica com uso de MDI
1. Coloque o paciente sentado ou semi-sentado
(salvo contraindicação para elevar a cabeceira do paciente)
2. Revise a prescrição, identifique o
paciente e avalie a necessidade de uso de broncodilatador.
3. Aspire as secreções da orofaringe e
do TOT
4. Agite o MDI e aqueça a temperatura da
mão.
5. Coloque o MDI no adaptador de câmara
espacial no circuito do ventilador a 15 cm do tubo endotraqueal.
6. Remova o HME. Não desligue o
umidificador.
7. Certifique-se de que não haja
vazamentos no circuito.
8. Sincronizar o disparo do MDI com o
início da inspiração.
9. Aguarde pelo menos 15 segundos entre
os disparos até a dose total.
10. Monitorize efeitos adversos.
11. Reconecte o HME.
12. Documente o resultado clínico.
III.
Técnica utilizando nebulizadores de membrana ou “vibrating mesh”
1. Monte corretamente o nebulizador.
2. Siga as instruções do fabricante ao
executar um teste de funcionalidade antes do primeiro uso de um novo
nebulizador, bem como após cada desinfecção para verificar o funcionamento
adequado.
3. Coloque a solução no reservatório de
medicação. Não exceda o volume recomendado pelo fabricante.
4. Mantenha o nebulizador na posição
vertical.
5. Coloque o nebulizador no circuito do
ventilador na posição recomendado pelo fabricante.
6. Coloque o paciente sentado ou semi-sentado
(salvo contraindicação para elevar a cabeceira do paciente)
7. Ligue a energia.
8. Se o tratamento tiver que ser
interrompido, desligue a unidade para evitar desperdício.
9. Após a conclusão do tratamento,
desmonte e limpe como recomendado pelo fabricante.
10. Ao usar um nebulizador de membrana,
evite tocar na membrana durante limpeza porque isso pode danificar a unidade.
11. Siga as instruções do fabricante
para limpeza e desinfecção do nebulizador.
Em
conclusão:
A técnica “ideal” seria aquela na qual
não exista qualquer interferência de fatores que reduzam a deposição do
aerossol nas vias aéreas. Pressupõe, por tanto, a não interferência do
umidificador ativo ou passivo (HME). Nessas condições ideais podem se usar as
doses convencionais do broncodilatador. Entretanto, em certas situações
clínicas, doses mais elevadas de broncodilatadores podem ser necessárias em
pacientes com obstrução grave das vias aéreas ou se a técnica de administração
não for nas condições ideais (opção pelo uso de umidificador ativo/passivo, VC
baixo, necessidade de uso de alto fluxo inspiratório ou encurtamento do tempo
inspiratório, assincronia etc).
Não há na literatura recomendações
claras para quanto devem ser aumentadas as doses da medicação broncodilatadora.
Quando a técnica não for ideal ou se opte por realizar a terapia inalatória
mantendo o umidificador ativo ou a HME, podem se usar as doses máximas recomendadas
(vide referencias acima), cuidando de monitorizar os efeitos adversos.
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