USO DA RELAÇÃO S/F COMO SUBSTITUTA DA
RELAÇÃO P/F
(Revisão de Literatura)
Alejandro Enrique Barba Rodas. Médico Coordenador da UTI do H.M. Jose de Carvalho Florece. São Jose dos Campos.
- A Hipoxemia traduz a queda da Pa02 que
por sua vez provocará uma redução do gradiente capilar-celular, levando a hipóxia tissular.
- A
nível da interface alvéolo -capilar a Pa02 resultante é consequência do G (A-a)02, sendo a
PA02 (pressão alveolar) a força motriz para a difusão do 02 através da membrana
alvéolo-capilar. A PA02 por sua vez, guarda uma relação direta com a Fi02[1].
- Em
ar ambiente com Fi02 de 0.21(21%) a hipoxemia
se define com Pa02 < do valor esperado para a faixa etária. Entretanto, a Insuficiência Respiratória define-se
pela Pa02<60mmHg (equivalente a uma Relação P/F < 60/0.21 = <286).
- A Relação
Pa02/Fi02 (P/F) tem sido melhor usada como ferramenta para diagnosticar
Insuficiência Respiratória, especialmente quando a Fi02 >0.21.
·
PaO2/FiO2 >400
mmHg – normal;
· PaO2/FiO2 >300-400
mmHg – déficit de oxigenação, mas ainda não em níveis
convencionalmente estabelecidos de insuficiência respiratória;
·
PaO2/FiO2 <300
mmHg – insuficiência respiratória;
·
PaO2/FiO2 <200
mmHg – insuficiência respiratória grave.
- A
Relação P/F é usada também para estratificar a Gravidade da S.A.R.A de acordo com
a definição de Berlim (Leve ≤ 300; Moderada ≤ 200 e Grave ≤ 100).
- A
Relação P/F também é usada como parâmetro de disfunção orgânica (respiratória)
nos Escores Prognósticos de UTI como SOFA e SAPS3.
- A
Pa02 é consequência do 02 dissolvido no sangue (aproximadamente 2% do total do conteúdo arterial de 02).
- Por
outro lado, a Saturação arterial da hemoglobina com oxigênio (Sa02) representa
o 02 transportado ou carregado pela Hb (aproximadamente 98%).
Existe uma relação direta, não linear (sigmoidal) entre a Sa02 e a Pa02 (Curva de Dissociação da Hb). Assim, aumentando a Pa02 aumentará a Sa02.
- É possível então analisar as relações entre a Fi02, a Pa02 e a Sa02.
- A
Sa02 pode ser obtida à beira leito pela oximetria de pulso, devendo se atentar
às limitações e fatores determinantes de erro de leitura: pele escura, unhas
postiças, esmalte, hipotermia, má perfusão periférica, hiperlipidemia, anemia
com hematócrito abaixo de 15%, luminosidade excessiva incidindo sobre o sensor,
má adaptação do sensor à pele permitindo a “contaminação” com a luz ambiental e
carboxihemoglobinemia (eleva falsamente a leitura da Sa02), metahemoglobinemia,
hiperbilirrubinemia[2].
- O
uso da Relação Sa02/Fi02 (Relação S/F)
tem sido, há muito tempo, estudada como possível substituto da Relação P/F para
PACIENTES EM VENTILAÇÃO MECÂNICA.
- Em 2006, Pratik P. Pandharipande e col., apresentaram um trabalho no 36th Critical Care Congress, publicado na revista Critical Care
Medicine, correlacionado a Relação S/F e P/F usando um modelo de regressão linear, visando o uso da Relação S/F no escore de SOFA em
substituição da Relação P/F em pacientes
de anestesia de trauma e cirúrgicos, para valores de Sa02 <99%. Aqui a Tabela de correlação apresentada: [3].
- Em 2007, Todd W. Rice e col., com base nos
dados do ARDS Network trial (ARMA database), usando um modelo de regressão linear
encontrou que uma relação SaO2/FiO2 de 235
correlaciona-se com a relação Pa02/Fi02 de 200 e uma Relação SaO2/FiO2 de 315
correlacionada com uma Relação PaO2/FiO2 de 300[4].
Tornou-se um trabalho de referência levando em conta o número de pacientes com SARA considerados.
Entretanto a relação foi apenas validada para valores de Sa02 ≤ 97%, para minimizar o viés que o platô da curva de
dissociação da Hb poderia gerar acima desse valor.
- Em 2008, Pandharipande
(anestesista) e Rice (pneumologista)
ambos do mesmo hospital (Nashville – Tenesse – USA) junto com outros
colaboradores, preocupados com a influência da PEEP nos pontos de corte da
Relação S/F, usando os dados também do ARDS Network trial (ARMA database),
publicam um trabalho usando modelo de regressão linear, correlacionado a Relação S/F com a
Relação P/F dentro de faixas de PEEP como substituto no SOFA[5].
A relação foi apenas validada para valores de Sa02 ≤ 98%.
-Em 2009, Pratik P. Pandharipande e Todd W. Rice juntam os dados dos bancos da Anestesia e do ARMA para pacientes com Sa02 ≤ 98% estabelecendo
duas Tabelas. Uma, considerando apenas pacientes com SARA repetindo o trabalho
de 2008, e outra em que fixaram valores de corte para uma população mista
avaliando conjuntamente por regressão linear logaritmica 4728 pareados (1742 da
anestesia e 2986 da SARA) [6] .
-Mais recentemente, em 2016, Mehta T. R. e col.
avaliaram 50 pacientes (101 amostras) a correlação entre a Relação S/F e P/F no
diagnóstico de Insuficiência
Respiratória, usando tambem modelo de regressão linear, encontrando que a relação P/F de 300 correlaciona-se muito
bem com a razão S/F de 325,6 e que a relação P/F de 200 correlaciona-se com a
Relação S/F de 269,7[7].
Foram usados valores de Sa02 <97%. Concluiu que seus valores se aproximavam
aos encontrado por Rice e col.
EM CONCLUSÃO:
* Para pacientes em ventilação espontânea
sem suporte de oxigênio (respirando ar ambiente), nos quais não tenha sido
coletada gasometria, estando o paciente sem sinais clínicos de desconforto
respiratório e sem sinais de hipoperfusão tissular, poder-se-ia adotar uma Relação
P/F >400, não pontuando no SOFA. Pacientes com dispneia, mesmo que leve ou
com oxigenoterapia (cateter, máscara, etc.) ou em uso e VNI, deverá ser
obrigatoriamente coletada gasometria arterial para calcular a relação P/F.
* Para Pacientes em Ventilação Mecânica,
usar-se-á as Tabelas referenciadas no trabalho de Pandharipande e Rice para
pacientes com Sa02≤98%:
CORRELAÇÃO GERAL ENTRE
A RELAÇÃO P/F x RELAÇÃO S/F PARA PACIENTES EM V.M. E Sa02≤98%
ESCORE DE SOFA
|
RELAÇÃO P/F
|
RELAÇÃO S/F
|
1
|
<400
|
<512
|
2
|
<300
|
<357
|
3
|
<200
|
<214
|
4
|
<100
|
<89
|
Fonte: Pratik P.
Pandharipande, MD. et. al., Derivation and validation of SpO2/FiO2 ratio to
impute for PaO2/ FiO2 ratio in the respiratory component of the Sequential
Organ Failure Assessment (SOFA) Score. Crit Care Med. 2009 April ; 37(4):
1317–1321.
CORRELAÇÃO ENTRE A RELAÇÃO P/F x RELAÇÃO S/F PARA PACIENTES COM
S.A.R.A. E Sa02≤98%
RELAÇÃO S/F
|
||||
ESCORE DE SOFA
|
RELAÇÃO P/F
|
PEEP <8
|
PEEP 8 - 12
|
PEEP >12
|
1
|
<400
|
<502
|
<515
|
<425
|
2
|
<300
|
<370
|
<387
|
<332
|
3
|
<200
|
<240
|
<259
|
<234
|
4
|
<100
|
<115
|
<130
|
<129
|
Fonte: Pratik P.
Pandharipande, MD. et. al., Derivation and validation of SpO2/FiO2 ratio to
impute for PaO2/ FiO2 ratio in the respiratory component of the Sequential
Organ Failure Assessment (SOFA) Score. Crit Care Med. 2009 April ; 37(4):
1317–1321.
-
Para o SAPS3 embora não existam trabalhos de validação, poder-se-ia por analogia, usar a Relação S/F
para valores <100, conforme as tabelas acima.
[1] G(A-a)O2
= PA02 – Pa02 = [(PB - PH2O) x FiO2 - PaCO2/R] – Pa02
[2] OXIMETRIA DE PULSO ARTERIAL. ARTIGO PRODUZIDO PELO
COREN/SP.
http://portal.coren-sp.gov.br/sites/default/files/oximetria%2022-12.pdf
[3] Pratik P. Pandharipande, MD. et. al., CALCULATING SOFA
SCORES WHEN ARTERIAL BLOOD GASSES ARE NOT AVAILABLE: VALIDATING SpO2/FiO2
RATIOS FOR IMPUTING PaO2/ FiO2 RATIOS IN THE SOFA SCORE. Critical Care
Medicine: December 2006 Volume 34 Issue 12 (suppl) p A1
[4] Rice TW, Wheeler AP, Bernard GR, et al. Comparison of
the SpO2/FIO2 ratio and the PaO2/FIO2 ratio in patients with acute lung injury
or ARDS. Chest. 2007; 132:410–417. [PubMed: 17573487]
[5] Pratik P. Pandharipande, MD. et. al., Determination of
SpO2/FiO2 thresholds to impute for PaO2/FiO2 ratios in the Sequential Organ
Failure Assessment score. Crit Care. 2008; 12(Suppl 2): P499.Published online
2008 Mar 13. doi: 10.1186/cc6720
[6] Pratik P. Pandharipande, MD. et. al., Derivation and validation of SpO2/FiO2 ratio to impute for PaO2/ FiO2 ratio in the respiratory component of the Sequential Organ Failure Assessment (SOFA) Score. Crit Care Med. 2009 April ; 37(4): 1317–1321. doi:10.1097/CCM.0b013e31819cefa9.
[7]
Mehta T. R. et. al., Can pulse oximetric saturation (SpO2)/fraction of inspired
oxygen (FiO2) ratio surrogate PaO2/ FiO2 ratio in diagnosing acute respiratory
failure? International Journal of Biomedical and Advance Research 2016; 7(5):
242-246.
Muito bom
ResponderExcluirUtil para nosso dia como fisio.