DEVE SE DAR ANTIBIÓTICO APÓS “BRONCOASPIRAÇÃO”?.
Dr. Alejandro Enrique Barba Rodas. Médico Intensivista. Coordenador da Unidade Coronariana da Santa Casa de São Jose dos Campos.
Muito frequentemente vemos que,
em pacientes com diagnóstico de “broncoaspiração” presumida ou confirmada, é
iniciado imediatamente antibioticoterapia para tratar uma suposta pneumonia
aspirativa. Apesar da falta de evidências demonstrando benefício, uma pesquisa envolvendo
médicos de unidades de cuidados intensivos, revelou que 78% prescrevia
rotineiramente antibióticos para pacientes no momento da macroaspiração
presenciada[1], e
um estudo multicêntrico de pacientes criticamente doentes mostrou que 87% dos
pacientes com diagnóstico firmado de pneumonite aspirativa e 97% daqueles com
suspeita de aspiração receberam precocemente antibióticos[2].
Esta prática expõe os pacientes ao uso desnecessário de antibióticos, que pode
contribuir para o desenvolvimento de resistência antimicrobiana e eventos
adversos, como Infecção por Clostridium
difficile[3] [4].
A princípio, poder-se-ia afirmar
que tal conduta se afigura errada, mas, resulta importante entender que aspiração,
pneumonite e pneumonia são eventos diferentes, embora possam guardar uma
relação causal e temporal.
Portanto, uma reflexão merece ser
feita a partir dos seguintes questionamentos:
1.
Como
se define “broncoaspiração”?
2. Qual
a incidência de aspiração, pneumonite aspirativa e de pneumonia aspirativa
primária após um episódio de aspiração e de pneumonia aspirativa secundaria,
após um episódio de pneumonite aspirativa?
3. Interessa
apenas a suspeita de aspiração ou ela teria que ter sido presenciada?
4. Quais
são os aspectos mais relevantes no tocante ao diagnóstico diferencial?
5. Diante
das evidencias atuais, justifica-se iniciar antibioticoprofilaxia ou
antibioticoterapia para aspiração, pneumonites ou pneumonia aspirativa?
1. Como se define “broncoaspiração”?
O termo correto a ser usado deveria
ser apenas aspiração. Isto porque a
definição comum de aspiração é a inalação de conteúdo gástrico ou da orofaringe
dentro da laringe ou do trato respiratório inferior[5]
[6].
Ou seja, o conteúdo pode atingir não apenas a via aérea inferior (traqueia,
brônquios e pulmões) mas também a laringe que pertence à via aérea superior
provocando quadros obstrutivos[7].
Com relação ao conteúdo, este pode se constituir de diferentes substancias como
vômito, partículas de alimentos, secreções orofaríngeas e flora microbiológica.
A depender de, se o conteúdo aspirado seja estéril ou colonizado com bactérias,
teremos as duas principais síndromes:
pneumonite e pneumonia aspirativa como eventos primários. Outras síndromes
aspirativas menos frequentes incluem a obstrução das vias aéreas, o abscesso
pulmonar, pneumonite lipoídica exógena, fibrose intersticial crônica, e a
pneumonia por Mycobacterium fortuitum[8]
[9].
2. Qual a incidência de aspiração, pneumonite aspirativa ou de
pneumonia aspirativa primária após um episódio de aspiração e de pneumonia
aspirativa secundaria, após um episódio de pneumonite aspirativa?
-Não há dados consistentes para a
população geral, mas para subgrupos populacionais. Em pacientes internados
torna-se também difícil estimar incidência devido a que a maioria das
aspirações dentro do hospital ocorrem de forma silenciosa ou não presenciada
por microaspirações[10].
Entretanto, estudos do sono revelam uma frequência de aspiração de
aproximadamente 50% em indivíduos saudáveis durante eletroencefalografia de
pacientes dormidos sem sedativos médicos. Volumes de até 0,148 mL marcados
radioativamente foram recuperados por noite, representando um valor mínimo de
aspiração respiratória[11]
[12].
Estudos experimentais em animais demonstraram que a gravidade de lesão pulmonar
por pneumonite aspirativa aumenta diretamente com o volume de aspirado e
indiretamente com o seu pH, e que um pH< 2,5 é necessário para causar
pneumonite por aspiração. No entanto, o estômago contém uma variedade de outras
substâncias além do ácido. Vários estudos experimentais revelaram que a aspiração
de pequenos alimentos particulados do estômago pode causar danos pulmonares
graves, mesmo com o pH do aspirado >2.5[13].
Estes modelos animais requerem um inóculo que tenha um pH de ≤ 2,5 e que seja
relativamente grande (geralmente 1 a 4 mL / kg). Isso se traduziria em um
inóculo de pelo menos 25 mL de ácido gástrico em humanos adultos. É provável que
volumes menores produzam um processo mais sutil que escapa à detecção clínica
ou causa uma forma menos fulminante de pneumonite. As alterações patológicas
nos modelos animais de pneumonite ácida evoluem rapidamente. Dentro de 3
minutos, ocorre atelectasia, hemorragia peribrônquica, edema pulmonar e
degeneração das células epiteliais brônquicas. Após 4 horas, os espaços
alveolares são preenchidos com leucócitos polimorfonucleares e fibrina.
Membranas hialinas são vistas em 48 horas. O pulmão neste momento também é
grosseiramente edematoso e hemorrágico com consolidação alveolar. A observação
clínica de que pacientes com refluxo esofágico ou gástrico apresentam frequentes
episódios de pneumonite recorrente, frequentemente acompanhados por fibrose pulmonar,
corrobora esse conceito[14].
-Aspiração ocorre em
aproximadamente 0,05% de pacientes de
anestesia (1 caso a cada 2000–3000 pacientes)[15]
[16]
[17].
Num estudo retrospectivo de pacientes submetidos à anestesia geral, Warner et
al. relataram ocorrência de aspiração em 66 pacientes, dos quais 42 evoluíram
de forma assintomática, 13 necessitaram de ventilação mecânica por mais de 6
horas, e 3 pacientes faleceram. Aspiração gástrica foi a causa direta de SARA
grave[18].
- Aspiração ocorre frequentemente
em pacientes internados, com um
estudo demonstrando mais de 85% em pacientes de UTI com pelo menos um episódio
documentado[19] [20]
[21].
-Há uma maior frequência de aspiração
silenciosa (microaspiração) em pacientes
idosos com pneumonia adquirida na comunidade (PAC), com um estudo revelando
aspiração como a causadora de 10 a 30% de todas as admissões por PAC[22]
[23]
[24].
Estudos revelam um aumento da incidência
da pneumonia aspirativa com o envelhecimento, sendo o risco quase 6 vezes maior
entre idosos com idade ≥
75 anos, em comparação com os pacientes de idade <
60 anos, e é predominante no sexo masculino após os 70 anos de idade. A
pneumonia adquirida na comunidade (PAC) é uma das principais causas de
morbidade e mortalidade em idosos, e a principal causa de morte entre
residentes de asilos. A aspiração orofaríngea é um importante fator etiológico
que leva à pneumonia em idosos. A incidência de doenças neurológicas
cerebrovasculares e degenerativas aumentam com o envelhecimento, e esses
distúrbios estão associados a disfagia e um reflexo de tosse prejudicado com a
probabilidade aumentada de aspiração. Paciente idoso com sinais clínicos
sugestivos de disfagia e/ou que têm PAC deve ser encaminhado para uma avaliação
multidisciplinar da capacidade de deglutição. Isso pode incluir terapia de
deglutição, modificação da dieta e cuidados orais agressivos[25].
-Estima-se uma taxa de aspiração em torno dos 70% em pacientes com depressão do nível da consciência,
e até 50% de pacientes com acidente
vascular cerebral e lesão cerebral prévios, e em pacientes com intubação endotraqueal varia entre 50% e 75%[26].
A ocorrência de pneumonia aspirativa
após afeções neurológicas como o acidente vascular cerebral é bastante comum,
com uma incidência de 6%-22%[27].
Esta entidade associa-se a uma elevação significante da morbilidade e
mortalidade, acompanhada pelo aumento dos custos de cuidados de saúde pelo
difícil diagnostico associado a pequenos episódios de aspiração[28]
[29].
-Apenas 13% a 38% das aspirações
documentadas de sólidos ou líquidos evoluem para pneumonia[30].
- Entre 5 a 15% das PAC são
aspirativas[31].
-Aproximadamente 25% dos
pacientes com pneumonite aspirativa por macroaspiração desenvolverá pneumonia
aspirativa bacteriana secundaria nos próximos 2 a 7 dias[32]
[33]
-Aproximadamente 10% dos
pacientes internados por overdose de drogas desenvolve pneumonite aspirativa, sendo
considerada sua causa mais comum e estando entre 10% a 30% da causa de mortes
atribuídas à anestesia[36]
[37].
3. Interessa apenas a suspeita de aspiração ou ela teria que ter sido presenciada?
Não poucas vezes, o diagnóstico
de aspiração é “presumido” em razão de microaspirações em paciente com fatores
de risco, ou quando após intubação é observada a saída de secreção pelo tubo
com caraterísticas de dieta. Entretanto, um diagnóstico de certeza de aspiração
requer que tenha sido presenciado[38]
[39].
4. Quais são os aspectos mais relevantes no tocante ao diagnóstico
diferencial?
A pneumonite aspirativa, também conhecida como pneumonite
química ou Síndrome de Mendelson, se refere ao dano produzido na via aérea
inferior pela aspiração de conteúdo estéril gástrico ou da orofaringe. A extensão
do dano depende de fatores como tipo, quantidade e pH do conteúdo aspirado,
sendo o volume e a acidez os fatores mais importantes. Numa primeira fase o
dano se produz em 1 a 2 horas pelo efeito caustico da secreção. O ácido produz
uma lesão por queimadura no epitélio da arvore traqueobrônquica
(traqueobronquite química) assim como no epitélio alveolar e no endotélio
capilar. Isso leva a edema inflamatório intersticial e subsequente desconforto
respiratório. Numa segunda fase ocorre edema inflamatório tardio com migração
de neutrófilos até a área de lesão, geralmente 4 a 6 horas do evento inicial. A
ativação dos neutrófilos produz liberação de radicais livres e proteases que
por sua vez provocam maior liberação de mediadores inflamatórios num círculo
vícios que perpetuam o processo inflamatório e o desconforto respiratório. Muito
embora a pneumonite química é um processo de etiologia não infecciosa, mas
decorrente de um processo inflamatório, o dano gerado por esse processo pode
predispor a uma infecção secundaria sobreposta, isto é, pneumonia aspirativa secundaria por germes patógenos. Com
fisiopatologia diferente, pneumonia aspirativa primaria, é um
processo infeccioso, decorrente da inalação de conteúdo colonizado por
bactérias patógenas na via aérea inferior, procedente da orofaringe ou do
estômago. Neste caso, também temos a ocorrência das duas fases inflamatórias
que ocorrem na pneumonite química, com a diferença que a presença de bactérias
produz uma reação inflamatória diferente, com menor dano tissular direto. A
proliferação de microrganismos inibe a função e oxigenação pulmonar normal e
persistirá até que o tratamento antibiótico seja instaurado. Caso o tratamento
antibiótico não seja instaurado, ocorrera formação de abscessos e/ou empiema
com uma forma do organismo tentar limitar o processo. À diferença da pneumonite
química, a pneumonia aspirativa costuma ser mais silenciosa, especialmente em
pacientes de UTI, que se encontram sob sedação, analgesia e ventilação mecânica
e nos quais microaspirações de secreção que se acumulam a nível supracuff podem
eventualmente atravessá-lo e chegar na até o pulmão. Estas microaspirações
podem gerar uma pneumonia aspirativa de evolução mais lenta que será descoberta
apenas quando se torne sintomática. Embora fisiopatologicamente diferentes,
ambas entidades podem apresentar manifestações clinicas similares,
especialmente durante as primeiras 24–48 horas após o evento de aspiração, onde
sintomas iniciais comuns incluem tosse, chiado, cianose e dificuldade
respiratória. Tais sintomas podem varias desde leve intensidade até constituir
um quadro de desconforto respiratório. Pneumonite aspirativa, muitas vezes
imita um quadro de pneumonia aspirativa, com presença inicial de leucocitose, febre
de baixo grau e radiografia de tórax mostrando infiltrados nas áreas
dependentes que podem induzir ao diagnóstico de pneumonia aspirativa. Após uma
suspeita de aspiração, as anormalidades radiológicas do tórax geralmente
aparecem dentro de duas horas. A broncoscopia, se realizada, demonstra eritema
dos brônquios, indicando lesão ácida. Os sintomas persistem por 48 a 72horas
antes que a recuperação comece a se manifestar. Infelizmente, a semelhança
entre os dois quadros dificulta o diagnóstico correto, induzindo ao início
precoce de terapia antibiótica. Biomarcadores não tem mostrado poder de
acurácia para diferenciar ambas entidades (mesmo procalcitonina), restando como
forte elemento diagnóstico o fato de a aspiração ter sido testemunhada. A
suspeita clínica demonstrou ser pouco confiável (60% de sensibilidade e 27% de
especificidade quando comparada com os resultados de imagem latente após estudo
com alimentação enteral radiomarcada). Portanto, pneumonite ou pneumonia por
aspiração devem ser consideradas diagnóstico de exclusão após descartar outras
causas de doença pulmonar aguda, como embolia, edema pulmonar, insuficiência
cardíaca, PAC e PAH. Infelizmente, não há ferramenta que possa ser considerada
como padrão ouro para o diagnóstico de certeza. O uso de culturas de amostras
de secreção respiratória (esputo, aspirado traqueal, lavado broncoalveolar ou
escovado brônquico) tem o inconveniente que deve se esperar >72 horas para
analisar os resultados e diferenciar entre pneumonite e pneumonia (embora um
estudo gram da amostra inicialmente coletada pode demostrar a presença de
bactérias apontando para eventual pneumonia), restando ainda analisar pelo
cut-off de referencia entre colonização e infecção[40].
Certos grupos populacionais apresentam maior susceptibilidade por apresentar
certos fatores de risco: rebaixamento do nível de consciência (RNC),
convulsões, TCE e intoxicação por álcool e drogas tem risco aumentado por
redução do reflexo de tosse e fechamento da glote[41]
[42]
[43].
Essa relação foi definida no estudo da Adnet e Baud, que demonstrou uma correlação
direta entre nível de consciência e risco de aspiração[44].Outros
distúrbios neurológicos – como como doença de Parkinson, acidente vascular
cerebral e disfagia, que limita reflexos de proteção das vias aéreas, podem
colocar pacientes em alto risco também[45].
Distúrbios gastrointestinais como refluxo gastresofágico, obstrução intestinal
e até colocação de SNG podem aumentar a susceptibilidade por redução do
esfíncter esofágico ou aumento do volume de conteúdo gástrico e frequência
subsequente de refluxo ou regurgitação[46]
[47].
Este risco permanece significativo mesmo com a sonda em posição pós-pilórica[48].
Estudos também demonstraram aumento do risco de aspiração na população idosa,
provavelmente devido ao fracasso dos mecanismos de defesa (por exemplo, reflexo
da tosse), maus cuidados, e diminuição fisiológica da reserva ou capacidade do
corpo para adaptar-se às circunstâncias de esforço[49]
[50]
[51].Finalmente,
a aspiração relacionada à medicação pode ser problemática e é mais comumente
associada com sedativo ou agentes anestésicos (que reduzem proteção das vias
aéreas), anticolinérgicos (que aumentam os resíduos gástricos), e bloqueadores
dos canais de cálcio (que reduzem o tono do esfíncter esofágico)[52].
Contudo Marik, tem estabelecidos
alguns critérios que podem ajudar a fazer o diagnóstico diferencial[53]:
5. Diante das evidencias atuais, justifica-se iniciar
antibioticoprofilaxia ou antibioticoterapia para aspiração ou pneumonites ou
aspirativa?
Resta evidente que a simples ocorrência
de aspiração presenciada ou referida em paciente que evolui de forma
assintomática não merece qualquer tipo de terapia antibiótica nem mesmo
profilática.
Entretanto, a ocorrência de
aspiração, presenciada ou presumida, evidente (macroaspiração) ou silenciosa
(microaspiração) com aparição de sintomas respiratórios leves ou graves, com
alterações laboratoriais e radiológicas, desafia constantemente a capacidade de
decisão do médico para iniciar antibioticoterapia diante da possibilidade de
estar frente a uma pneumonite ou de uma pneumonia aspirativa. Há quem ainda, na
ausência de imagem radiológica (que afastaria pneumonite e pneumonia), levante
a hipótese de uma traqueobronquite química ou infecciosa e se depare com o
mesmo dilema. O dilema é inevitável, quando levantada a hipótese de um quadro
de sepse de foco presumido secundário a pneumonia aspirativa ou
traqueobronquite infecciosa e, conforme recomendações atuais do surviving
sepsis campaign (SSC) nos deparamos com a necessidade de iniciar
antibioticoterapia dentro da primeira hora do diagnóstico (mesmo com foco
presumido) e a possibilidade de estarmos promovendo uso irracional de
antibiótico e resistência antimicrobiana diante d ocorrência de apenas
pneumonite aspirativa ou traqueobronquite química. A situação ainda se torna
mais complexa, toda vez em paciente internados na UTI, sob ventilação mecânica
que se levante hipótese de traqueobronquite associada a ventilação mecânica (TAV)
geralmente associada a microaspirações, diretrizes da ATS/ISDA recomendam não
iniciar antibioticoterapia[54].
Não é, portanto, tarefa fácil!.
Mesmo profilaxia antibiótica não
se justificaria, conforme recente estudo publicado por Dagran Vlad e col., no Clinical Infectios Desease deste mês de
agosto de 2018. Os autores realizaram um estudo de coorte retrospectivo,
unicêntrico, para comparar os resultados de pacientes com pneumonite aspirativa
que receberam terapia antimicrobiana profilática com aqueles tratados com
cuidados de suporte apenas durante os primeiros 2 dias após a macroaspiração. O
desfecho primário foi mortalidade hospitalar em 30 dias. Os desfechos
secundários incluíram transferência para unidade de cuidados intensivos, terapia
antimicrobiana recebida entre os dias 3 e 14 após a macroaspiração,
escalonamento da terapia e antibioticoterapia e dias livres de antibiótico. Caso
de pneumonite aspirativa foi definido como pacientes com > 18 anos com um
evento de macroaspiração confirmado por documentação clínica (por exemplo,
vômito presenciado, engasgos com alimentos) e uma radiografia de tórax
demonstrando um novo infiltrado. Apenas pacientes que não foram ventilados
mecanicamente e internados em uma unidade de terapia intensiva no momento da
aspiração foram incluídos. Pacientes já recebendo antimicrobianos no dia do
evento de aspiração ou já intubados antes da aspiração aguda foram excluídos.
Entre 1483 pacientes adultos revisados, 200 atenderam à definição de caso para
pneumonite aguda por aspiração, incluindo 76 (38%) que receberam terapia
antimicrobiana profilática e 124 (62%) que receberam apenas tratamento de
suporte. Profilaxia antibiótica foi realizada com piperacilina /tazobactam,
ertapenem, meropenem, ceftriaxona, moxifloxacina, levofloxacina, amoxicilina /
clavulanato e cefuroxima, durante as primeiras 48 horas seguidas à
macroaspiração documentada. Profilaxia antimicrobiana não foi associada a
nenhuma melhora na mortalidade, nem a menor transferência para UTI e, posterirormente
a maior frequência de escalonamento de antibioticoterapia e menos dias livres
de antibióticos. Concluíram que a terapia antimicrobiana profilática para
pacientes com pneumonite aguda por aspiração não oferece benefício clínico e
pode gerar maior seleção antibiótica que resultam na necessidade de maior escalonamento
da antibioticoterapia[55].
Apenas cuidados de suporte há
muito tempo são recomendados para pacientes com pneumonite aspirativa baseada
na falta de evidência de que terapia antimicrobiana pode impedir o
desenvolvimento subsequente pneumonia, mas os dados clínicos publicados continuam
sendo limitados.[56] Medidas
apenas de suporte para pacientes com pneumonite aguda por aspiração podem
preservar o uso de agentes antimicrobianos para quando ocorrer o desenvolvimento
de sinais de processo pulmonar infeccioso, permitindo um tratamento antibiótico
direcionado mais curto.
Revisão recente do UpToDate, recomenda
que pacientes com uma aspiração observada devem ter sucção traqueal imediata
para limpar fluidos e partículas que possam causar obstrução. No entanto, esta
manobra não protegerá os pulmões de lesões químicas, que ocorram imediatamente pela
"queimadura instantânea". Preconiza ventilação com pressão positiva, coloides
de alto peso molecular administrados por via intravenosa e nitroprussiato de
sódio infundido na artéria pulmonar (para diminuir a pressão e resistência pulmonar
com vasodilatador). A ventilação mecânica é indicada em pacientes com
insuficiência respiratória (SARA). O uso de glicocorticoides no tratamento da
pneumonite química é controverso. Em pacientes gravemente doentes, recomenda o
uso empírico de antibióticos. No entanto, se nenhum infiltrado se desenvolver
após 48 a 72 horas, recomenda interromper os antibióticos. Alguns pacientes com
pneumonite química terão infiltrados pulmonares precocemente após o evento de
aspiração. Em pacientes que recebem inicialmente antibióticos, mas que
defervescem rapidamente, é apropriado repetir uma radiografia de tórax e
descontinuar os antibióticos se os infiltrados e sinais e sintomas de pneumonia
tiverem se resolvido[57].
CONCLUSÃO: Do anteriormente exposto, sugere-se:
1. Simples ocorrência de aspiração
presenciada ou presumida em paciente que evolui de forma assintomática não
merece em hipótese alguma, qualquer tipo de terapia antibiótica nem mesmo
profilática
2. Após aspiração presumida ou presenciada,
com aparecimento de um quadro respiratório novo ou que mude o status prévio do
paciente internado, com sintomas respiratórios, alterações laboratoriais
(lucograma, procalcitonina, PCR, etc) e/ou radiológicas (infiltrado novo ou
progressivo) sem, no entanto, caracterizar sepse, estado grave, crítico, de
instabilidade hemodinâmica ou insuficiência respiratória, fornecer ao paciente
apenas medidas de suporte respiratório, sem antibioticoterapia. Reavaliar, caso
o paciente apresente piora do quadro conforme item 3.
3. Após aspiração presumida ou presenciada,
com aparecimento de um quadro respiratório novo ou que mude o status prévio do
paciente internado, com sintomas respiratórios, alterações laboratoriais (lucograma,
procalciitonina, PCR, etc) e/ou radiológicas
(infiltrado novo ou progressivo), caracterizando sepse, estado grave, crítico, de
instabilidade hemodinâmica ou insuficiência respiratória, além das medidas de
suporte hemodinâmico e respiratório iniciar imediatamente antibioticoterapia empírica.
A ausência de infiltrados na radiologia inicial não impedira o início do
tratamento. Se nenhum infiltrado se desenvolver após 48 a 72 horas, reavaliar o
quadro para suspender os antibióticos. Havendo imagem radiológica nova e
persistente, aguardar os resultados das culturas de secreção respiratória para
avaliar eventual escalonamento/descalonamento.
4. Em pacientes que recebem
inicialmente antibióticos, mas que defervescem e estabilizam rapidamente, é
apropriado repetir uma radiografia de tórax em 24 a 48 horas, e descontinuar os
antibióticos se os infiltrados e sinais e sintomas tiverem se resolvido.
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