ESTABILIDADE DO HCoV-19 (SARS-CoV-2), EM AEROSSOL E SUPERFÍCIES EM COMPARAÇÃO COM SARS-CoV-1 (**)
(Aerosol and surface stability of HCoV-19 (SARS-CoV-2) compared to SARS-CoV-1[1])
Neeltje van Doremalen(1), Trenton Bushmaker(1), Dylan H. Morris(2), Myndi G. Holbrook(1), Amandine Gamble (3), Brandi N. Williamson(1), Azaibi Tamin(4), Jennifer L. Harcourt(4), Natalie J. Thornburg(4), Susan I. Gerber(4), James O. Lloyd-Smith(3,5,) Emmie de Wit(1), Vincent J. Munster(1)
1. Laboratory of Virology, Division of Intramural Research, National Institute of Allergy and Infectious Diseases, National Institutes of Health, Hamilton, MT, USA.
2. Department of Ecology and Evolutionary Biology, Princeton University, Princeton, NJ, USA
3. Department of Ecology and Evolutionary Biology, University of California, Los Angeles, Los Angeles, CA, USA
4. Division of Viral Diseases, National Center for Immunization and Respiratory Diseases, Centers for Disease Control and Prevention, Atlanta, GA, USA.
5. Fogarty International Center, National Institutes of Health, Bethesda, MD, USA
(**) Resumo feito pelo Dr. Alejandro Enrique Barba Rodas. Médico Coordenador da Unidade Coronariana da Santa Casa de São Jose dos Campos - SP.
Artigo original do NEJM publicado
na forma de pré-print na plataforma medRxiv no último dia 09.03.2020, revela
que o HCoV-19 (SARS-CoV - 2) causou > 88.000 doenças relatadas com
uma taxa atual de letalidade de aproximadamente 2%. Aqui investigamos a estabilidade[2]
de HCoV-19 viáveis em superfícies e em aerossóis em comparação com o
SARS CoV-1. No geral, a estabilidade é muito semelhante entre o HCoV-19
e o SARS-CoV-1. Descobrimos que vírus viáveis podem ser detectados em aerossóis
até 3 horas após a aerossolização, até 4 horas em superfície de cobre,
até 24 horas em superfície de papelão e até 2-3 dias em superfícies de plástico
e aço inoxidável.
HCoV-19 e SARS-CoV-1 exibiram meia-vida[3]
similar em aerossóis, com estimativas medianas em torno de 2,7 horas.
Ambos os vírus mostram viabilidade relativamente longa em superfície de aço
inoxidável e polipropileno em comparação com cobre ou papelão: a estimativa
média de meia-vida para o HCoV-19 é de cerca de 13 horas em superfície de
aço e 16 horas em superfície de polipropileno.
Nossos resultados indicam que a transmissão
pelo aerossol através de fômites[4]
do HCoV-19 é plausível, pois o vírus pode permanecer viável nos aerossóis
por várias horas e em superfícies de até dias.
O novo coronavírus humano, agora
denominado coronavírus 2 da síndrome respiratória aguda grave 2 (SARS-CoV-2,
referido como HCoV-19 ao longo deste manuscrito) surgiu em Wuhan, China no
final de 2019.
Em 3 de março de 2020, mais de
88.000 casos foram diagnosticados em 64 países, incluindo 2,915 mortes. A
rápida expansão desse surto é indicativa de transmissão eficiente de homem para
homem. HCoV-19 foi detectado em amostras do trato respiratório superior e
inferior de pacientes, com altas cargas virais em amostras do trato
respiratório superior. Portanto, a transmissão do vírus por secreções
respiratórias na forma de gotículas (> 5 mícrons) ou aerossóis (<5
mícrons) parece ser possível.
Estabilidade do vírus no ar e
nas superfícies podem afetar diretamente a transmissão do vírus, pois as
partículas precisam permanecer viáveis por tempo suficiente após serem expulsas
do hospedeiro para serem recebidas por um novo hospedeiro. Transmissão aérea ou
transmissão a partir de fômites tem sido proposta com tendo papel importante na
epidemiologia dos dois coronavírus zoonóticos que surgiram neste século, o SARS-CoV-1
e MERS-CoV. Transmissão aérea pode ter sido responsável pela grande
disseminação durante a epidemia de SARS de 2002-2003, e numerosos eventos de
grande disseminação da SARS-CoV-1 foram associados a procedimentos médicos
geradores de aerossóis.
Também houve suspeita de
transmissão durante a epidemia de SARS e uma análise de SARS nosocomial concluiu que os fômites haviam
desempenhado um papel significativo. Dado o impacto potencial de diferentes
vias de transmissão na epidemiologia de vírus emergentes, é crucial quantificar
as características virologias que podem moldar esses aspectos da transmissão do
HCoV-19. Aqui, analisamos a estabilidade do HCoV-19 em aerossol na superfície e
comparemos com o SARS CoV-1, o coronavírus mais intimamente relacionado com
infecção em humanos. Avaliamos a estabilidade em aerossol do HCoV-19 e do SARS-CoV-1
por até três horas em aerossóis e até 7 dias em diferentes superfícies. Estimamos
as taxas de decaimento de HCoV-19 e SARS-CoV-1 em cada condição usando uma
regressão bayesiana.
O HCoV-19 está causando muitos
mais casos de doença e mais mortes que o SARS-CoV-1, assim como está se
mostrando mais difícil de conter. Entretanto, nossos resultados indicam que a
maior transmissibilidade observada para o HCoV-19 é improvável que seja devida a
maior viabilidade ambiental desse vírus em comparação com o SARS-CoV-1. Em vez
disso, existem vários fatores que poderiam explicar as diferenças
epidemiológicas entre os dois vírus. Existem já dados de que indivíduos
infectados com HCoV-19 podem eliminar e transmitir o vírus no estado pré-sintomático
ou assintomático. Isso reduz a eficácia da quarentena e do rastreamento de
contatos como medidas de controle em relação ao SARS-CoV-1. Outros fatores
prováveis incluem a virulência (carga infecciosa necessária para estabelecer
uma infecção), a estabilidade do vírus no muco, e fatores ambientais, como
temperatura e umidade relativa. Em experimentos em andamento, estamos estudando
a viabilidade do vírus em diferentes matrizes, como secreção nasal, escarro e
matéria fecal, sob condições ambientais variadas, como temperatura e umidade
relativa.
A epidemiologia da SARS-CoV-1 foi
dominada pela transmissão nosocomial e SARS-CoV foi detectado em várias
superfícies e objetos em ambientes de saúde. A transmissão de HCoV-19 também está
ocorrendo em ambiente hospitalar, com mais de 3000 casos relatados de infecções
adquiridas em hospitais. Esses casos destacam a vulnerabilidade das
instituições de saúde para a introdução e disseminação do HCoV-19, ao contrário
do SARS-CoV-1, que a maioria das transmissões secundárias foram relatadas fora
dos estabelecimentos de saúde, e a transmissão generalizada na comunidade está
sendo vista em vários contextos, como famílias, reuniões no local de trabalho e
em grupo.
Uma característica notável do
SARS-CoV-1 foi a super disseminação de eventos, nos quais um único indivíduo
infectado foi responsável por um grande número de casos secundários, bem
acima do número médio indicado pelo número de reprodução (Reff). Uma tendência
para esses eventos de super propagação tem duas importantes consequências para
a epidemiologia de infecções emergentes: a propagação da infecção torna os
pacientes mais propensos a morrer, e quando ocorrem os surtos, eles são
explosivos e podem sobrecarregar a capacidade de saúde pública. Vários eventos
hipotéticos de super disseminação foram relatados para HCoV-19. Dado que os
eventos de super propagação de SARS-CoV-1 estavam ligados ao aerossol e a fômite,
nossa constatação de que o HCoV-19 tem viabilidade no ambiente comparável à do
SARS-CoV-1 dá credibilidade à hipótese de que ele também pode estar associado à
super propagação.
Descobrimos que a meia-vida do
HCoV-19 no papelão é maior que a meia-vida do SARS-CoV-1. Deve-se salientar
que os dados eram visivelmente mais notórios para essa superfície do que para as
outras superfícies testadas, por isso aconselhamos cautela na interpretação
deste resultado. Aqui, mostramos que a estabilidade do HCoV-19 e SARS-CoV-1 sob
o teste experimental, nas circunstâncias testadas foi semelhante.
[1] NEJM.
Artigo original. medRxiv preprint doi:
https://doi.org/10.1101/2020.03.09.20033217.doi: https://doi.org/10.1101/2020.03.09.20033217
[2] Estabilidade:
tempo que ele consegue manter sua capacidade de infecção no ambiente
[3] Meia-vida:
tempo necessário para que sua quantidade se reduza em 50%
[4] Um
fômite (português brasileiro) ou fómite (português europeu) é
qualquer objeto inanimado ou substância capaz de absorver, reter e transportar
organismos contagiantes ou infecciosos (de germes a parasitas), de um indivíduo
a outro. Há vários exemplos de fômites na Medicina. Sapatos contaminados podem
espalhar doenças nos pés e na boca. Outros exemplos incluem ferramentas ou
utensílios como mangueirinhas de chuveiro introduzidas na vagina de diversas
mulheres que utilizam o mesmo banheiro e a mesma mangueira para fazerem lavagem
vaginal pós coito; laringoscópios que não são apropriadamente desinfectados
entre as utilizações em diversos pacientes. Toalhas sujas, talheres, maçanetas,
corrimãos, ônibus e outros meios de transportes coletivos e mesmo superfícies
tais como chão, paredes e mesas também podem servir de disseminadores de
doenças porque são objetos que entram em contato com diversas pessoas e podem
conter agentes patogênicos que são transmitidos de uns para outros devido ao
uso comum desses objetos contaminados. Pesquisadores descobriram que
superfícies lisas (não-porosas), transmitem bactérias e vírus melhor que
materiais porosos; assim, é mais provável que se pegue uma doença de uma
maçaneta de porta do que de dinheiro em papel. A razão é que materiais porosos
e, especialmente, fibrosos, absorvem e aprisionam o agente contagiante,
tornando mais difícil contraí-lo apenas através do toque. https://pt.wikipedia.org/wiki/F%C3%B4mite
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